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Mães enfrentam obstáculos para voltar ao trabalho no Japão

Kurumi Mori, Emi Nobuhiro e Kae Inoue

04/10/2018 12h39

(Bloomberg) -- Dois anos atrás, um discurso on-line sobre a falta de creches no Japão viralizou nas redes sociais e aparentemente deu início a um movimento que levou mães trabalhadoras a fazer manifestações para exigir que o governo as levasse a sério e oferecesse mais creches.

Desde então, houve pouco progresso: embora milhares de creches tenham sido adicionadas, elas lotaram rapidamente e as longas listas de espera continuam, o que mantém as mulheres em casa mesmo que elas queiram voltar ao trabalho. Isso ilustra a profundidade do problema das "mães que querem retornar" no Japão, um país que não pode se dar ao luxo de ignorá-las em um momento em que enfrenta uma escassez de mão de obra persistente e o primeiro-ministro, Shinzo Abe, pressiona por políticas trabalhistas favoráveis às mulheres.

"Com certeza há mais creches no Japão, mas é um jogo de gato e rato, e as listas de espera estão ficando longas", disse Tsukiko Tsukahara, presidente da Kaleidist K.K., uma empresa de consultoria e pesquisa com sede em Tóquio.

Yukie Watabe, de 38 anos, é uma das mães que saiu do emprego. Ela, como muitas mulheres japonesas, teve formação acadêmica e uma vida profissional precoce igual à dos homens de sua geração. Ela se formou na prestigiosa Universidade de Waseda em 2002 e trabalhou em uma série de instituições financeiras de renome - Sumitomo Mitsui Banking, Nikkei Shimbun Group e Mitsubishi UFJ Morgan Stanley Securities - antes de assumir um trabalho em uma empresa de gestão de fundos em Tóquio.

Até que ela descobriu que estava grávida. Isso efetivamente acabou com sua carreira corporativa, um caminho que ela vinha trilhando há uma década. E depois que seu filho nasceu, em agosto de 2013, ela encontrou o seguinte obstáculo enfrentado por muitas mães no Japão - as filas excepcionalmente longas das creches em muitos bairros. Ela mudou de campo e, em 2015, fundou uma empresa on-line de moda, a Ayuwa.

"Até hoje, não entendo por que tive que sair do mundo corporativo depois de anos de trabalho duro só porque eu engravidei", disse Watabe.

Pouca imigração

Em Tóquio, as mães que trabalham enfrentam obstáculos que não existem em outros centros financeiros, como Hong Kong e Cingapura. Além da pressão social sobre as mulheres para cuidar dos próprios filhos, a oposição de longa data do Japão à imigração significa que as famílias não têm opções acessíveis para cuidar de crianças em casa.

Então, depois de tirar proveito da licença-maternidade liberal do Japão, muitas mães enfrentam a realidade de que não têm onde deixar seu bebê para que possam voltar ao trabalho. Ambos os pais têm permissão para solicitar uma licença - na maioria dos casos, é a mãe que solicita - até que a criança tenha um ano de idade, e é possível estendê-la para 24 meses caso não encontre assistência infantil, com cerca de 67 por cento do salário-base ou mais. Muitas acabam estendendo a licença sem remuneração após o período de 24 meses por falta de creches.

Repórteres da matéria original: Kurumi Mori em Tóquio, kfukushima12@bloomberg.net;Emi Nobuhiro em Tóquio, enobuhiro@bloomberg.net;Kae Inoue em Tóquio, kinoue@bloomberg.net