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Exxon investe US$ 1 mi em iniciativa para tributação do carbono

Jennifer A. Dlouhy e Christopher Flavelle

09/10/2018 14h42

(Bloomberg) -- Uma iniciativa para aplicação de um imposto às emissões de dióxido de carbono acaba de ganhar uma apoiadora impensável: uma grande produtora de petróleo e gás.

A Exxon Mobil está destinando US$ 1 milhão a uma campanha política que, se bem-sucedida, gerará, na prática, um imposto atrelado aos principais produtos da empresa.

A medida é consistente com a antiga defesa da Exxon à fixação de um preço para o dióxido de carbono, que seria aplicado no lugar de uma série de regulações ambientais que já elevam o custo dos combustíveis fósseis. Mas representa a primeira contribuição desse tipo de uma grande empresa petroleira para a iniciativa, conhecida como Americans for Carbon Dividends (Americanos pelos Dividendos do Carbono).

Com a doação, a Exxon, que é a maior petroleira dos EUA, se une à maior geradora de energia nuclear do país e a grandes defensores das energias renováveis para financiar a campanha política que tem o objetivo de aplicar um imposto às emissões com arrecadação redistribuída para as famílias americanas.

"Esta é a primeira vez que uma grande empresa americana de petróleo e gás investe de verdade em um esforço para fixação de preço para o carbono; isso nunca foi feito antes", disse Ted Halstead, CEO do Climate Leadership Council, que desenvolveu o plano básico. "Uma doação de um milhão de dólares não é algo pequeno para esse tipo de iniciativa."

A geradora de energia Exelon já se comprometeu a doar US$ 2 milhões para a iniciativa nos próximos dois anos. A produtora de energia renovável First Solar e a Associação Americana de Energia Eólica estão contribuindo, cada uma, com US$ 100.000 por ano. As doações estão ajudando a pagar uma forte campanha de lobby liderada pelos ex-senadores John Breaux e Trent Lott e assessorada por vários agentes políticos.

O esforço surge em meio a alertas dos cientistas de que é urgentemente necessário capturar emissões de dióxido de carbono e evitar as consequências mais catastróficas da mudança climática. O Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas das Nações Unidas insistiu que os países devem tomar medidas "sem precedentes" para combater a mudança climática, advertindo em um relatório, no domingo, que os esforços globais atuais são insuficientes para manter o ritmo de aquecimento sob o limite crítico de 1,5 grau Celsius.

A doação de US$ 1 milhão prometida pela Exxon representa o valor que a empresa gerou a cada dois minutos no ano passado, segundo dados de receita compilados pela Bloomberg. Mas o compromisso parece contrastar com outros gastos políticos da empresa. Por exemplo, a Exxon divulgou US$ 11,4 milhões em despesas totais com lobby em 2017. E revelou doações de apenas US$ 510.000 a candidatos de nível estadual, comitês estaduais e organizações políticas nacionais que representam governadores e procuradores-gerais estaduais no ano passado.

"Defendemos há uma década um preço para o carbono com receita neutra", disse o porta-voz da Exxon Mobil, Scott Silvestri, em referência a um imposto ou taxa que na prática não aumente a receita do governo. "A aplicação de um custo uniforme a toda a economia coincide com nossos princípios para o gerenciamento do risco da mudança climática."

--Com a colaboração de Ben Brody e Kevin Crowley.

Repórteres da matéria original: Jennifer A. Dlouhy em Washington, jdlouhy1@bloomberg.net;Christopher Flavelle em Washington, cflavelle@bloomberg.net