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Carvão continua sendo galinha dos ovos de ouro da mineração

Thomas Biesheuvel

10/10/2018 12h16

(Bloomberg) -- Apesar do grande otimismo em relação aos metais do futuro, as mineradoras estão obtendo alguns de seus maiores lucros com um bastião da indústria pesada, o carvão.

Do cobre ao zinco, os metais básicos caíram neste ano, como representantes dos temores do comércio e do nervosismo nos mercados emergentes. Enquanto isso, o carvão tem crescido constantemente, apoiado pela forte demanda do principal usuário de commodities, a China, e está sendo negociado perto do patamar mais alto em mais de seis anos.

Isso está gerando grandes pagamentos para os produtores. A Glencore está a ponto de ver seus lucros de mineração de carvão eclipsarem os resultados do cobre neste ano pela primeira vez desde que vendeu ações em Londres em 2011. Os resultados do carvão da Anglo American quase triplicaram nos últimos quatro anos, apesar da produção menor. O combustível deve contribuir com 43 por cento dos lucros da Anglo neste ano, embora a companhia opere algumas das melhores minas de platina, diamante e cobre do mundo.

"Este é o ponto ideal para as mineradoras de carvão", disse Ben Davis, analista da Liberum Capital Markets. "A demanda chinesa por carvão está altíssima, porque eles não estão produzindo o suficiente no mercado interno. A China está importando mais carvão do que nunca."

Não era para ser assim. Entre quase todo mundo que trabalha com metais, há um otimismo universal em relação ao cobre, dos CEOs das maiores companhias de mineração aos investidores e analistas, todos esperam uma maior demanda por causa da eletrificação de cidades e carros e da oferta restrita. O carvão, por outro lado, tem sido amplamente evitado tanto pelos investidores quanto por muitas produtoras.

Uma explicação é que o carvão é suscetível a fortes oscilações de preço. Ao contrário da maioria das outras commodities, grande parte do combustível é produzida no país onde é consumida, perto de usinas elétricas. O mercado marítimo global, de cerca de 1 bilhão de toneladas, representa menos de um quinto da produção total, o que significa que pequenas oscilações na demanda podem ter um impacto desproporcional sobre os preços.

A demanda por carvão transportado pelos oceanos cresceu mais de 9 por cento no primeiro semestre, enquanto a oferta subiu menos de 8 por cento, segundo a Glencore. A geração de energia com carvão na China aumentou 7,8 por cento, afirmou a maior produtora de carvão do mundo.

Embora não seja incomum que haja uma desconexão entre materiais a granel e metais básicos - commodities como carvão e minério de ferro tendem a estar mais alinhadas com os fundamentos da oferta e da demanda do que com o sentimento dos investidores -, o padrão persiste por mais tempo do que o habitual.

"Já vimos desconexões assim antes, mas elas tendem a durar apenas algumas semanas", afirmou a BMO Capital Markets. "O exemplo atual durou vários meses, e toda vez que parece que as forças contrárias da macroeconomia se esgotaram, elas reaparecem de novo."