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Emissão de carbono deveria custar entre US$ 20 e US$ 27.000

Mathew Carr

10/10/2018 13h01

(Bloomberg) -- A ideia de que os mercados de carbono podem ajudar a conter as emissões de gases causadores do efeito estufa ganhou um novo impulso nesta semana graças a um painel de cientistas convocado pela Organização das Nações Unidas.

Mas a ideia só ganhará mais aceitação política desta vez dependendo do preço que os responsáveis pelas políticas estabelecerem para a emissão na atmosfera do dióxido de carbono que aquece a Terra. O painel da ONU elaborou vários cenários, sugerindo que os mercados por si só não resolverão o problema.

"É necessário um conjunto complementar de políticas rigorosas", disseram cientistas no relatório.

O mercado tem o potencial de reduzir 10 bilhões de toneladas das emissões globais até 2030, uma redução de 25 por cento em relação aos níveis atuais. Outro benefício: o dinheiro arrecadado com a precificação do carbono poderia ser usado para amenizar o impacto dos preços mais altos da energia.

O painel não recomendou um preço. Em vez disso, afirmou que o preço exigido depende do objetivo que os formuladores de políticas queiram atingir e de quais outras regras e regulamentos forem impostos. A ideia é que um mercado, juntamente com regulamentos e impostos, proporcione tanto incentivos quanto penalidades para que os poluidores reduzam suas emissões.

Os preços do carbono provavelmente precisariam ser 20 vezes mais altos do que os níveis atuais na Europa para conter as emissões de combustíveis fósseis se este fosse o principal mecanismo político em vigor, afirmou o Painel Intergovernamental sobre Mudança Climática (IPCC, na sigla em inglês) em seu relatório. Depois de avaliar pesquisas acadêmicas revisadas por pares, concluiu:

> Os preços precisam ficar em média entre US$ 140 e US$ 590 por tonelada entre 2030 e 2100 para evitar que as temperaturas globais subam mais de 1,5 grau Celsius acima dos níveis anteriores à revolução industrial.

> Para a meta menos ambiciosa de impedir que as temperaturas subam 2 graus, os preços médios do carbono poderiam ficar entre US$ 20 e US$ 150 no mesmo período.

> Para o limite mais ambicioso, os preços podem precisar pular para mais de US$ 1.000 antes de 2030 e talvez chegar a US$ 27.000 por volta do fim do século.

O carbono na Europa subiu para mais de 20 euros (US$ 23) a tonelada pela primeira vez em uma década em agosto, embora tenha permanecido bem abaixo dos níveis previstos pela ONU durante grande parte da existência do Sistema de Comércio de Emissões do continente, que começou em 2005.

Defensores dos sistemas de comércio de emissões afirmam que os preços mais altos do carbono afastariam os consumidores da tecnologia poluente a que estão acostumados, disse Glen Peters, pesquisador sênior do Centro de Pesquisa Internacional sobre Clima e Meio Ambiente, em Oslo.

Ele supõe que os preços altos do carbono, que são uma política razoável, acabarão sendo vítimas dos consertos de curto prazo e da apatia política em relação à mudança climática. Cinco anos atrás, a Austrália decidiu não apoiar um sistema de preços do carbono que prometia reduções de impostos.

"Os partidos de direita deveriam adorar os impostos do carbono, mas não adoram porque o clima é uma questão da esquerda", disse Peters. "A liderança climática já era."