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Oficiais civis e militares dobram sua participação no Congresso

Bruce Douglas, Rachel Gamarski e Gabriel Shinohara

14/10/2018 19h48

(Bloomberg) -- Jair Bolsonaro não é o único militar que surfou na onda eleitoral de indignação pública com a criminalidade e com a corrupção para o sucesso político do 1º turno das eleições. Na cola do capitão da reserva, primeiro lugar na corrida presidencial, pelo menos 38 ex-soldados, policiais e bombeiros pegaram carona e chegaram ao Congresso Nacional. Destes, 16 deputados e um senador fazem parte do PSL, partido de Bolsonaro.

"A maior parte dos policiais é de direita, e isso faz com que a gente tenha essa grande adesão no PSL", disse o deputado Delegado Waldir, reeleito por Goiás e integrante da sigla. "Ninguém mais pode lidar com essa onda de criminalidade."

Com o argumento de que foram alçados ao poder com o aumento da criminalidade no país, a maior parte da bancada é formada por ex-integrantes das polícias civil e militar. "Isso passa pela insegurança que vivemos no Brasil. Eu fui o delegado que mais prendi bandido em Goiás, ninguém aguenta mais essa onda de insegurança", disse Waldir, delegado da polícia civil.

Em um país que acumulou mais de 63 mil assassinatos violentos no ano passado, esses candidatos atraíram eleitores por duas interpretações principais, segundo o professor Wagner de Melo Romão, do departamento de Ciência Política da Unicamp: a de que são capazes de "um tratamento mais duro na questão da segurança pública", junto com "a visão de parte da população de que militares seriam menos corruptíveis". Trata-se de uma visão muito parcial da realidade", disse ele.

A policial militar Katia Sastre foi a 7ª deputada mais votada em SP. Ela ficou famosa nas mídias sociais após matar um suspeito de crime em frente a uma escola enquanto estava de folga na véspera do Dia das Mães. Sastre recebeu 264 mil votos, depois que as imagens de sua ação viralizaram nas redes sociais e se tornaram parte fundamental de sua campanha eleitoral.

Outro caso é o do deputado Sargento Fahur (PSD-PR), que também ficou conhecido nas redes sociais, mas por sua atuação contra o tráfico de drogas e contrabando. Fahur, que atua há 35 anos na polícia militar, tem mais de 270 mil seguidores no Twitter e recebeu mais de 314 mil votos, o deputado mais votado do estado.

Atrás desse movimento, criou-se mais uma forte bancada no Congresso. Com a iminência de votação de uma reforma da Previdência, os militares poderão também defender seus próprios interesses. As alterações previdenciárias enviadas pelo atual presidente não contemplaram mudanças na categoria.

"Aquelas categorias que têm força política para se livrar do corte de privilégios acabam conseguindo manter esses privilégios relacionados ao campo previdenciário", explicou o professor Wagner de Melo Romão. "Não tenho dúvida que defenderão pautas, digamos, de defesa da categoria deles."

Em comparação a outros blocos parlamentares, como as bancadas ruralistas ou evangélica - ambas com mais de 200 membros - o contingente das forças de segurança é relativamente pequeno, mas ainda é mais do que o dobro do número eleito em 2014.