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Prisão com fins lucrativos quer evitar erros do passado

Rob Urban, Yalixa Rivera e Kristy Westgard

29/10/2018 15h10

(Bloomberg) -- Giovannie Marrero, que cumpre 20 anos de prisão por agressão doméstica e violações da lei de armas, foi um dos primeiros a se apresentar. A qualquer momento, a CoreCivic o transferirá de uma prisão mais próxima de casa, em Porto Rico, para outra no Mississippi.

Na última vez em que as autoridades transferiram presos porto-riquenhos para os EUA, em 2012, eles entraram em confronto com os detentos locais e foram devolvidos rapidamente. Marrero disse que desta vez prometeram a ele aulas de inglês e novas habilidades profissionais.

"Aqui em Porto Rico não temos nada disso", disse Marrero, 27. "O que temos é muito tempo para não fazer nada."

Com a proliferação das prisões privadas, mais presos estão sendo transferidos para instalações nas quais as empresas detêm capacidade excedente. Para os clientes governamentais, a medida pode gerar economia e aliviar a superlotação. Para os detentos, significa estar preso a centenas ou milhares de quilômetros de familiares, amigos e advogados.

No caso da CoreCivic, trata-se de um dilema. Parte da missão das prisões com fins lucrativos é reduzir as chances de que presos como Marrero voltem à cadeia após a libertação. Mas as empresas lucram tendo detentos em suas prisões. E transferir prisioneiros para longe de casa os torna mais propensos a cometer crimes novamente, segundo Michele Deitch, professora sênior da LBJ School e da Faculdade de Direito da Universidade do Texas em Austin.

"Isto é um negócio e os prisioneiros são as engrenagens da máquina", disse Deitch. "A questão não é o que é melhor para os prisioneiros, e sim como administrar uma empresa rentável."

Retorno

Os presos que têm permissão para receber visitas pessoais têm 25 por cento menos probabilidades de cometer crimes depois que são soltos, segundo estudo de 2016 realizado por pesquisadores da Universidade Estadual Sam Houston. Aqueles que têm permissão para receber visitas conjugais ou saídas temporárias têm 36 por cento menos probabilidades de voltar à cadeia.

Marrero diz que é improvável que os integrantes de sua família viajem 2.900 quilômetros para atravessar o Golfo do México e visitá-lo no Centro Correcional do Condado de Tallahatchie, em Tutwiler, Mississippi.

Os esforços de combate à reincidência da CoreCivic se concentram em educação, capacitação profissional, aconselhamento sobre dependência e em outros programas de reinserção, além dos requisitos de seus contratos, disse a porta-voz da empresa, Amanda Gilchrist. O envio de Marrero e de outros 3.200 detentos para o Mississippi também pode beneficiar Porto Rico, que está falido.

A transferência de todos os prisioneiros levaria quatro anos e chegaria a poupar US$ 50 milhões por ano para a comunidade, já que possibilitaria o fechamento de cinco ou seis de suas 29 prisões, segundo Erik Rolon, secretário do Departamento de Correções e Reabilitação de Porto Rico. Serão transferidos apenas os prisioneiros que se apresentarem como voluntários, disse. Porto Rico ainda avalia o acordo.

"Esta é uma oportunidade real e uma necessidade real", disse o CEO da CoreCivic, Damon Hininger, em teleconferência, em 9 de agosto. "Como eles querem avançar com bastante rapidez, acreditamos que a capacidade que temos hoje disponível nos lugares onde poderíamos fazer ampliações imediatamente nos dá uma grande vantagem competitiva."

Repórteres da matéria original: Rob Urban em N York, robprag@bloomberg.net;Yalixa Rivera em San Juan, yrivera14@bloomberg.net;Kristy Westgard em N York, kwestgard1@bloomberg.net