IPCA
0,83 Abr.2024
Topo

Vega Sicilia faz vinhos em Rioja com casal Rothschild

Elin McCoy

05/11/2018 15h52

(Bloomberg) -- Pablo Álvarez, presidente da histórica vinícola espanhola Vega Sicilia, brinca com o relógio enquanto fala sobre os vinhos que está prestes a lançar. Trata-se de um A. Lange & Sohne Langematick, marca que ele coleciona pela distinção e exclusividade, com todas as peças meticulosas fabricadas a mão.

São qualidades que o discreto Álvarez considera essenciais para os grandes vinhos. Na Vega Sicilia, seu objetivo é nada menos que a perfeição. Quando descobriu que rolhas defeituosas contaminaram alguns vinhos neste ano, ele fez recall de todas as garrafas, a um custo de US$ 3 milhões e plantou 50.000 mudas de corticeira na fazenda Vega Sicila na região rochosa de Ribera del Duero, a duas horas de carro de Madri.

A mesma filosofia se aplica ao novo projeto dele, a Macán, joint venture na região de Rioja com os bilionários Benjamin e Ariane de Rothschild (do banco privado Edmond de Rothschild, sediado em Genebra).

Macán é a versão espanhola da californiana Opus One, joint venture de Chateau Mouton-Rothschild e Mondavi Napa. (Benjamin de Rothschild é também o maior acionista da Château Lafite Rothschild e Ariane comanda a Compagnie Vinicole Baron Edmond de Rothschild, que fez parcerias com outras vinícolas)

"Eu vinha pensando em comprar algo em Rioja", lembra ele. "E quando os Rothschild vieram conversar comigo, eu disse que demoraria." Durante anos, eles compraram de modo discreto, juntando 92 hectares de aproximadamente 70 proprietários, com cuidado para não provocar valorização dos terrenos.

O estilo do vinho não é o tradicional Rioja ? eles usam somente barris de carvalho da França e 100 por cento das uvas são Tempranillo. A primeira safra em Vega Sicilia, de 2009, esgotou semanas após o lançamento, em 2013. Em junho, foi inaugurada oficialmente a impressionante estrutura arquitetônica da vinícola em Rioja, onde foram investidos US$ 34 milhões. Agora, são feitas experiências com um vinho branco.

"Sempre digo que a primeira safra deve ser a pior", disse Alvarez. Nesse ramo, é preciso ter paciência, segundo ele.

Álvarez, hoje com 63 anos, comanda a Vega Sicilia desde 1985. Ele é um dos sete filhos do falecido David Álvarez, fundador do Grupo Eulen, multinacional de serviços empresariais com mais de 88.000 funcionários em 14 países. Ele se tornou um dos homens mais ricos da Espanha e, em 1982, comprou a VegaSicilia, fundada em 1864. Ele acabou criando uma segunda empresa, El Enebro, reunindo imóveis e vinícolas da família.

A primeira aposta de Pablo Álvarez foi eliminar todos os químicos agrícolas e investir em qualidade, incluindo a fabricação local de tonéis."Mas Vega Sicilia não pode crescer, então comecei a criar outras propriedades", explicou ele. Em 1991, lançou o Alion, um vinho moderno do estilo Ribera del Duero. Ele comprou vinícolas a 100 quilômetros de distância, com denominação de origem em Toro, que hoje produzem o vinho Pintia. Após ler reportagens sobre a privatização de vinícolas na Hungria, ele negociou anos com o governo para montar a Oremus in Tokaj. Para aumentar o fluxo de caixa, ele foi um dos primeiros a produzir um branco seco a partir da uva Furmint, típica da região.

"Ainda não terminei", insistiu Alvarez. "Estou olhando em Napa, em parte porque os EUA são os maiores consumidores mundiais de vinho. Adoraria comprar em Bordeaux ou Borgonha, mas os preços são proibitivos. Talvez na Itália."

Mas a estrela da família ainda é o Unico, único vinho espanhol no índice Liv-ex Fine Wine 1000, com fãs declarados ao redor do mundo, como Plácido Domingo. As safras mais preciosas são guardadas em uma adega protegida por cerca elétrica.Álvarez também enfrentou pedras pelo caminho. Ele foi alvo do grupo separatista basco ETA e passou anos andando com guarda-costas. Mais recentemente, enfrenta as falsificações. Neste ano, a polícia espanhola prendeu um bando de falsificadores que vendiam garrafas de 19 euros como se fossem da Vega Sicilia.

Álvarez ainda está empenhado em produzir um ótimo vinho branco em Vega Sicilia, mesmo após 15 anos de experiências decepcionantes. Ele está esperançoso com parreiras de Chardonnay e Roussanne que plantou recentemente.

Mas o executivo vai se aposentar aos 70 anos. "O problema da empresa familiar é sempre a família. Precisamos fazer um manual com regras e condições que todos aceitam e escolher uma pessoa da família para comandar as vinícolas. Ainda não fizemos isso, porque o chefe é o chefe até o último dia."