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Candidata ao BCE ganha pontos por gênero, não por experiência

Viktoria Dendrinou, Nikos Chrysoloras e Nicholas Comfort

06/11/2018 15h40

(Bloomberg) -- Na disputa entre a irlandesa Sharon Donnery e o italiano Andrea Enria para ver quem será o mais importante supervisor do setor bancário na zona do euro, a candidata ganhou destaque por ser mulher e seu rival, pela experiência, segundo uma carta confidencial obtida pela Bloomberg.

Essa é a avaliação de uma carta de 23 de outubro de Roberto Gualtieri, presidente da Comissão de Assuntos Econômicos e Monetários do Parlamento Europeu, ao presidente do Banco Central Europeu, Mario Draghi. A carta resume as opiniões do influente grupo de parlamentares após uma audição a portas fechadas com os candidatos a liderar o Mecanismo Único de Supervisão do BCE.

Na carta, Gualtieri disse que ambos surgiram como candidatos favoritos e que houve equilíbrio nos pontos de vista gerais dos parlamentares, sendo que aqueles que "preferem Enria" enfatizaram "o valor agregado de sua experiência maior", e "aqueles que preferem Donnery destacam a importância de assegurar o equilíbrio de gênero e promover candidatas mulheres".

Donnery tem mais de 20 anos de carreira em política monetária, supervisão bancária e administração de empréstimos inadimplentes. Na carta, Gualtieri disse que "a avaliação da grande maioria dos grupos políticos" é que Donnery e Enria "fizeram as apresentações mais convincentes" dentro de uma lista formada por três pessoas, que também incluía o francês Robert Ophele.

Um porta-voz de Gualtieri preferiu não comentar.

Votação secreta

O Conselho de Governadores do BCE decidirá em votação, em 7 de novembro, quem deve assumir o posto com base na lista, que não foi publicada oficialmente. O Parlamento, então, precisará votar a respeito da nomeação, que finalmente será sancionada pelos governos do bloco cambial.

Houve um esforço para tentar indicar mulheres mais qualificadas para cargos seniores nos altos escalões do BCE. Enria, 57, é presidente do conselho da Autoridade Bancária Europeia, enquanto Donnery é vice-presidente do Banco Central da Irlanda. Ambos têm muitas qualificações, mas a carta sugere que, se Donnery vencer, será pelo bem da igualdade de gênero.

A força de Enria é sua rede internacional de contatos e os sete anos de experiência no comando do órgão que elabora normas técnicas para regulação de bancos, enquanto Donnery ganhou destaque à frente da força-tarefa do BCE que obrigou os bancos a reduzirem a quantidade de empréstimos inadimplentes.

O presidente do Parlamento Europeu, Antonio Tajani, e Gualtieri, ambos italianos, criticaram abertamente uma parte importante desse trabalho por entenderem que o BCE extrapolou seus poderes com orientações a respeito da rapidez com que os bancos deveriam realizar a baixa contábil das dívidas quando se tornam inadimplentes. Eles disseram também que o BCE não ofereceu tempo suficiente para considerar os feedbacks.

Repórteres da matéria original: Viktoria Dendrinou em Bruxelas, vdendrinou@bloomberg.net;Nikos Chrysoloras em Bruxelas, nchrysoloras@bloomberg.net;Nicholas Comfort em Frankfurt, ncomfort1@bloomberg.net