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Mudança climática causará `explosão de ratos': Bloomberg Opinion

Faye Flam

06/11/2018 14h51

(Bloomberg) -- O que a mudança climática tem de tão assustador?

O termo não assusta - pelo menos, não em um sentido visceral, de causar arrepios. Os cientistas mostraram que os prováveis 2 graus de aquecimento global que virão neste século serão extremamente perigosos, mas, enfim, "2 graus" dificilmente seria uma frase comum em pesadelos e filmes de terror.

Mas que tal "explosão de ratos"?

À medida que o clima esquenta, ratos em Nova York, Filadélfia e Boston estão se reproduzindo mais rápido - e especialistas alertam para uma explosão populacional.

Assim como os ratos, os seres humanos são animais resistentes e se adaptam a todos os tipos de climas. Por isso, pode ser tentador menosprezar a perspectiva de 2 graus de aquecimento. Especialmente para os americanos, que usam a escala Fahrenheit. Aquele aquecimento é de 2 graus Celsius. Será que eles se assustariam com 3,6 graus Fahrenheit? Provavelmente não.

O aspecto físico da mudança climática não causa tanto medo quanto o aspecto biológico. Muitos seres vivos são sensíveis a pequenas mudanças de temperatura, por isso o aquecimento de 2 graus Celsius mudará consideravelmente a flora e a fauna que nos rodeiam. Outras formas de vida também são muito sensíveis à umidade e, com isso, as populações entram em colapso ou explodem à medida que mudanças climáticas antropogênicas continuam aumentando a umidade em áreas úmidas e a sequidão em áreas secas.

E, embora as extinções possam inspirar uma sensação de tragédia, as criaturas que se multiplicam em surtos e infestações geram horror. Como disse Bobby Corrigan, especialista em ratos da Universidade de Purdue, a vários meios de comunicação, os ratos têm um período de gestação de 21 dias. Os bebês podem começar a se reproduzir depois de um mês. Isso significa que em um ano, uma rata prenhe pode resultar em 15.000 a 18.000 novos ratos. Invernos mais quentes continuarão intensificando a fecundidade dos ratos. As pessoas em zonas urbanas, como Nova York e Boston, já estão notando o aumento da quantidade de ratos, não apenas em becos no centro da cidade, mas até mesmo nos subúrbios elegantes.

Os ratos são apenas o começo. Os biólogos calcularam que, com o aquecimento esperado de 2 graus Celsius neste século, é provável que populações de insetos perigosos que comem safras explodam à medida que as regiões temperadas ficarem mais quentes, o que reduziria o rendimento das colheitas em 25 por cento a 50 por cento. Horrores semelhantes estão à espreita no oceano, onde biólogos descobriram que uma explosão populacional de ouriços-do-mar roxos - as "baratas" do oceano - está sufocando outros habitantes das florestas de algas do Pacífico. É profundamente preocupante que uma única espécie domine um ecossistema que era diversificado.

Nos últimos anos, os psicólogos acusaram os conservadores de serem mais inerentemente medrosos que os liberais, mas isso nunca se encaixou com o fato de os conservadores expressarem menos medo dos problemas ambientais. Alguns cientistas sociais finalmente começaram a questionar a ampla equação das preferências políticas com o medo, reconhecendo que pessoas diferentes temem coisas diferentes dependendo de sua criação, sua educação e seu ambiente. Mas todos nós compartilhamos este planeta que está ficando cada vez mais quente e, no mínimo, poderemos nos unir contra um futuro infestado de ratos.

Esta coluna não reflete necessariamente a opinião do conselho editorial nem da Bloomberg LP e de seus proprietários.