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Divergências entre EUA e China provocam cisão na internet

Bloomberg News

09/11/2018 12h50

(Bloomberg) -- Os figurões do mundo ocidental não compareceram à maior conferência da China sobre internet. Mas, na ausência deles, os administradores locais da indústria de tecnologia do país puderam anunciar à vontade sua visão única sobre a internet global.

Ao contrário de 2017, quando Tim Cook e Sundar Pichai participaram da Conferência Mundial da Internet em Wuzhen, a reunião deste ano foi indubitavelmente nacional, presidida por gente como o presidente da Tencent Holdings, Ma Huateng. Com a palavra, eles novamente defenderam o conceito de um meio rigidamente policiado que - no entanto - seja uma fonte de inovação para revolucionar empresas e modernizar a economia chinesa.

A primeira parte vai de encontro ao conhecido modelo liderado pelos EUA, mas já produziu duas das 10 empresas mais valiosas do mundo: Alibaba Group Holding e Tencent. Essa rápida ascensão levou Eric Schmidt, ex-CEO do Google, a declarar que a internet vai se dividir ao meio nos próximos dez anos, à medida que governos autoritários adotarem os controles abrangentes da China.

De um lado, está uma arena do ciberespaço que defende a comunicação aberta, enquanto do outro há um mundo murado, completamente controlado, onde muitos estão dispostos a ceder seus dados em troca de serviços. No encontro mais importante do setor de tecnologia da China, realizado nesta semana, Ma e um grupo de autoridades do governo enfatizaram que o destino do país é se tornar uma potência da internet e pediram por uma governança mais equilibrada do ciberespaço.

Os órgãos reguladores da China anunciaram seu conceito de "segurança cibernética" desde a conferência inaugural, em 2014. Mas a dicotomia entre os setores de tecnologia dos EUA e da China nunca foi tão esmiuçada quanto atualmente, quando os dois países mais ricos do mundo se enfrentam em um conflito que poderia definir uma nova ordem mundial. Em um momento em que ícones dos EUA, como Google e Facebook, são criticados por violações de privacidade e pela disseminação de discursos de ódio, seus colegas chineses anunciam que suas ideias constituem um modelo superior: um modelo voltado para os interesses do Estado.

"A economia chinesa é um enorme oceano. Tempestades não podem perturbá-lo", disse Ma, que também é conhecido como Pony, aos representantes. "Este oceano tem um enorme potencial de mercado e também é um grande espaço para a inovação. Acredito que esta não seja apenas uma oportunidade de desenvolvimento para a indústria da internet, mas para todos os setores. Não é uma oportunidade apenas para a China, mas para o mundo inteiro."

Declarações do presidente chinês, Xi Jinping, foram lidas no início da conferência e pediram "respeito mútuo" no ciberespaço entre os dois países. A atual divergência em suas abordagens, no entanto, tem consequências significativas e pode impedir que empresas como Facebook e Alphabet tenham uma presença relevante na maior arena de tecnologia móvel e de internet do mundo. É mais uma manifestação do que o ex-secretário do Tesouro dos EUA, Hank Paulson, chamou de "cortina de ferro econômica" que dividirá o mundo se os dois países não conseguirem resolver suas diferenças estratégicas.

To contact Bloomberg News staff for this story: David Ramli em Pequim, dramli1@bloomberg.net;Lulu Yilun Chen em Hong Kong, ychen447@bloomberg.net;Dandan Li em Pequim, dli395@bloomberg.net