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El Niño favorece a China em guerra comercial com EUA

Fabiana Batista

09/11/2018 13h07

(Bloomberg) -- O clima está favorecendo a China em sua guerra comercial com os EUA.

Graças ao fenômeno El Niño, o Brasil pode ser capaz de fornecer mais soja do que o habitual em janeiro, ajudando a saciar o apetite da China pela oleaginosa em um momento em que os compradores do país asiático estão esnobando alimentos cultivados nos EUA. A agência de meteorologia do Japão informou nesta sexta-feira o surgimento do fenômeno El Niño, com 70 por cento de chances de se estender até a primavera (Hemisfério Norte).

As condições foram favoráveis no início do plantio em Mato Grosso, o maior produtor de soja do Brasil. A previsão climática também é positiva para a segunda quinzena de dezembro, quando começa a colheita das primeiras variedades, disse Celso Oliveira, meteorologista da Somar, em São Paulo, por telefone. O El Niño sinaliza chuvas mais leves e curtas na colheita de dezembro a fevereiro.

"Podemos ver algumas chuvas, mas com dias ensolarados favoráveis para colher soja e plantar a segunda safra", afirmou Oliveira.

Nos nove primeiros meses do ano, em meio à escalada das tensões comerciais entre os EUA e a China, o Brasil embarcou 15 por cento mais soja para a China do que em todo o ano de 2017, segundo dados do Ministério da Indústria, Comércio Exterior e Serviços do Brasil.

Com o plantio quase concluído em Mato Grosso, os produtores podem começar a colher os grãos da nova safra antes do Natal, e não exatamente no fim do ano, como comumente ocorre, disse Daniele Siqueira, analista da consultoria AgRural, com sede em Curitiba, por telefone. Como resultado, a colheita da oleaginosa até o fim de janeiro será maior do que o normal.

"Como o ritmo da semeadura está em níveis recorde, provavelmente veremos volumes acima da média sendo colhidos em janeiro se o clima for favorável para trabalhos de campo", disse.

Os produtores capazes de entregar soja em janeiro tendem a conseguir preços melhores do que nos meses subsequentes. Em outubro, os produtores venderam soja para entrega em janeiro a preços até 2,8 por cento mais elevados do que para entrega em fevereiro, disse Siqueira.

Os preços da soja em Chicago caíram cerca de 9 por cento neste ano, atingindo o menor patamar em quase uma década, em um momento em que tarifas retaliatórias entre as duas maiores economias do mundo coincidem com safras mais abundantes. Os produtores brasileiros estão sendo parcialmente compensados pelo aumento dos prêmios pagos por sua oleaginosa.