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O que falta para o mercado 'comprar' o governo Bolsonaro?

Josue Leonel e Vinícius Andrade

13/11/2018 14h48

(Bloomberg) -- Passadas duas semanas da eleição de Jair Bolsonaro, o mercado continua sem sinais de uma entrada expressiva de capital estrangeiro que impulsione os ativos brasileiros.

Com a virtual frustração da tentativa de antecipar a reforma da Previdência e os sinais de que o novo governo ainda patina na articulação política, o investidor tende a adiar também suas apostas. Mesmo em 2019, ainda que o cenário positivo para o Brasil se confirme, a volta do fluxo depende também de a alta dos juros americanos não estragar a festa para os mercados emergentes.

O investidor sabe que mudar a Previdência é "sempre difícil" e não tinha expectativas de avanço ainda este ano, mas espera que o novo governo "entregue" a reforma em 2019 para assumir uma postura mais positiva, diz Georgette Boele, do ABN.

Além disso, também será a necessária a reversão da atual tendência global de fortalecimento do dólar. Neste caso, a boa notícia é que a estrategista prevê um quadro externo mais "construtivo" para as moedas emergentes no próximo ano, o que poderá ajudar a levar o dólar a cair para R$ 3,20 no final de 2019.

Para 59% dos gestores de fundos ouvidos pelo Bank of America Merrill Lynch e que supervisionam cerca de US$ 101 bilhões em ativos, a aprovação da reforma da Previdência é o gatilho necessário para o aumento do otimismo com Brasil –nesta tarde, o vice-presidente eleito do Brasil, General Hamilton Mourão, disse que novo governo quer aprovar a reforma da Previdência até junho do ano que vem.

Além da reforma, outros fatores-chave são indicadores que mostrem a volta do crescimento econômico e a confirmação de um ministério pró-mercado do novo presidente, diz o banco americano em relatório.

A cautela do investidor também se reflete no posicionamento do mercado futuro de câmbio. Enquanto os investidores nacionais estão comprados em real, os estrangeiros estão ainda posicionados na moeda americana, enquanto aguardam um cenário mais claro.

Para Rafael Ihara, economista da Ethica Asset, a entrada dos investidores não exige que as reformas estejam totalmente aprovadas, mas o mercado quer ver pelo menos o encaminhamento das propostas e sinais de que o novo governo tem uma base sólida no Congresso para aprová-las. "Basta a sinalização de que se seguirá na agenda de reformas", diz Ihara, que vê potencial de "entrada grande" de recursos externos.

Para o economista da Ethica, a preocupação maior é com a articulação política. Ele observa que há uma forma diferente de se negociar no governo Bolsonaro, priorizando as frentes parlamentares ao invés dos partidos. É uma "inovação" política que geraria incerteza. "São pessoas novas, conduzidas por um partido pequeno e com estratégia diferente de lidar com o Congresso", explica Ihara.

Mesmo na Bolsa, apesar de o Ibovespa ter se aproximado dos 90.000 pontos com a eleição de Bolsonaro, os números mostram que o entusiasmo é limitado ao investidor doméstico.

O saldo de recursos estrangeiros está negativo em R$ 7 bilhões no acumulado do ano, de acordo com dados da B3 compilados pela Bloomberg, e o quadro não mudou após o segundo turno. Em novembro, o saldo já está negativo em R$ 1,09 bilhão, com informações registradas até o dia 8 de novembro.

Para Ray Zucaro, diretor de investimentos da RVX Asset Management, além das dúvidas sobre as reformas de Bolsonaro, também pesa a realização de lucros após a alta da Bolsa anterior à eleição. "É mais fácil você vender algo que lhe rendeu lucro do que vender com prejuízo e admitir que você estava errado."

(Com a colaboração de Rafael Mendes, Davison Santana e Patricia Lara)