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Petroleiras podem levar gerações para resolver questão de gênero

Kevin Crowley e Javier Blas

04/12/2018 15h40

(Bloomberg) -- Quando Stacey Olson conseguiu seu primeiro emprego na área de energia, 29 anos atrás, ela era "um homem da empresa". Era assim que a Chevron denominava seu representante em uma plataforma de petróleo onde a maioria dos trabalhadores eram tercerizados.

Esse título não existe mais na Chevron, onde Olson é agora uma alta executiva, mas ela ainda vê muitos desafios para as mulheres em seu setor.

Globalmente, o setor de petróleo e gás está em segundo lugar, atrás apenas da construção civil, como o pior para a igualdade de gênero, de acordo com um estudo realizado pela Boston Consulting Group no ano passado. Olson, vice-presidente da unidade Appalachian Mountain Business da Chevron, diz que a raiz do problema está na formação, porque poucas mulheres fazem cursos de ciências, tecnologia, engenharia e matemática.

"Esses campos não viram um avanço como algumas das outras profissões, por exemplo, nas áreas médica e jurídica", disse Olson em uma entrevista em Houston.

Apenas 18 por cento a 19 por cento dos diplomas de bacharel em engenharia, ciência da computação e física são concedidos a mulheres, de acordo com a organização sem fins lucrativos National Girls Collaborative Project. Embora não haja diferença na capacidade acadêmica de meninas e meninos nesses assuntos, mensagens intencionais ou não intencionais de pais, de professores e da mídia podem desanimar meninas a estudar ciências e matemática, disse Erin Hogeboom, diretora de parcerias estratégicas da NGCP.

"Muito disso está incorporado, e será preciso uma maneira revolucionária de pensar sobre isso para realmente fazer a diferença", disse ela.

Para a Chevron, a solução é investir em uma infinidade de programas e redes que estimulem as adolescentes a estudar ciências, tecnologia, engenharia e matemática, além de apoiá-las durante a faculdade e contratá-las depois de formadas. Mas essa abordagem poderia demorar pelo menos uma geração - um tempo que o setor não tem em um momento em que questões como assédio sexual e igualdade salarial recebem mais atenção do que nunca.

Apesar de nomeações de alto nível, como Susan Dio, que se tornou presidente da unidade americana da BP neste ano, e Gretchen Watkins, que assumirá a chefia da unidade americana da Royal Dutch Shell em 2019, os EUA só têm uma CEO de uma grande companhia de petróleo: Vicki Hollub, da Occidental Petroleum.

Na última lista de "quarenta pessoas com menos de 40 anos" da revista Oil and Gas Investor, há 37 homens e apenas três mulheres. Uma porta-voz da publicação disse que realiza um evento anual para mulheres no setor e publica uma lista das 25 mulheres mais influentes na indústria de energia.

No setor de petróleo e gás em todo o mundo, 22 por cento dos trabalhadores são do sexo feminino, de acordo com o estudo do BCG. Um percentual ainda menor chega ao nível executivo, o que mostra que o problema não se restringe às faculdades e que as empresas de energia precisam se empenhar mais em como gerenciam e promovem as funcionárias.

A proporção de mulheres em relação aos homens na Chevron tem melhorado, mas uma verdadeira mudança pode levar muito tempo. O objetivo da Chevron não é atingir metas, mas "institucionalizar o processo e institucionalizar o progresso", disse Pat Yarrington, diretora financeira da Chevron há 10 anos.

--Com a colaboração de Rachel Adams-Heard.

Repórteres da matéria original: Kevin Crowley em Johannesburg, kcrowley1@bloomberg.net;Javier Blas em Londres, jblas3@bloomberg.net