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Viradas de Trump e Fed embalam ganhos nas bolsas dos EUA

Sarah Ponczek e Vildana Hajric

04/12/2018 15h58

(Bloomberg) -- Os protetores das bolsas americanas aparentemente voltaram a agir.

Há quem diga que foi isso o que motivou a repentina trégua na guerra comercial entre EUA e China e a postura mais acolhedora do comandante do banco central americano, Jerome Powell.

É até compreensível. Desde outubro, o mercado acionário dos EUA perdeu US$ 2,5 trilhões, enquanto os investidores questionavam a escalada da tensão comercial e a intenção do Federal Reserve de continuar subindo os juros até esfriar a economia. O Dow Jones Industrial Average, que Trump costuma citar como referência para o próprio sucesso, desabou. O S&P 500, que é mais abrangente, entrou em território de correção.

Na última semana, Trump e Powell mudaram rapidamente de postura, enquanto os mercados "demandavam" acordo, explicou Greg Valliere, estrategista-chefe global da Horizon Investments.

"Os protetores do Dow conseguiram emplacar movimentos de Powell e Trump para o mercado", acredita Ed Yardeni, que comanda uma firma de pesquisas que leva seu nome. "Jerome Powell virou Papai Noel na quarta-feira, os mercados certamente reagiram alegremente às indicações dele de que o aperto monetário acontecerá em ritmo ainda mais gradual. Se Jerome Powell é Papai Noel, então os dois duendes são o presidente Trump e o presidente Xi."

Yardeni repetiu uma versão da ideia que o tornou famoso em 1983, sobre operadores do mercado de renda fixa que se livravam de títulos de dívida quando estavam insatisfeitos com a política fiscal ou monetária. Em maio, ele argumentou que os defensores do Dow se livravam das ações para expressar descontentamento com as tarifas sobre aço e alumínio, usadas por Trump como munição na guerra comercial.

O S&P 500 avançou mais de 6 por cento desde que entrou em correção, no final de novembro, embalado pela reviravolta de Powell sobre a trajetória dos juros. Trump reclamou do Fed e da fraqueza das bolsas. O S&P 500 chegou a subir 1,5 por cento na segunda-feira, após Trump aceitar uma trégua na disputa com a China durante reunião na cúpula do Grupo dos 20.

Trump usa o mercado acionário como barômetro do próprio sucesso. As seis semanas de perdas nas bolsas influenciaram sua decisão de recuar na disputa comercial. Ele fez cerca de 40 referências aos mercados financeiros em suas postagens no Twitter, muitas vezes indicando ser responsável pela valorização dos ativos.

"Trump fará o que for preciso para manter a felicidade nos mercados financeiros", afirmou Valliere, da Horizon. "Dá para dizer que Trump e Powell receberam ordens para este quarto trimestre e cumpriram nas últimas duas semanas, falando o que os mercados queriam escutar."

Não foi somente a tensão comercial que abalou investidores nas últimas semanas. Eles temem que o crescimento global esteja se desacelerando ao mesmo tempo em que os bancos centrais retiram medidas de suporte. Fundos de hedge passaram a ter cautela em relação às ações de gigantes de tecnologia, que puxaram os ganhos recentes. Já os investidores pessoa física partiram para aplicações de altíssima liquidez no ritmo mais acelerado em três anos.

O mercado acionário, que vinha batendo recordes durante o governo Trump, de repente amargava perdas no acumulado do ano e não havia catalisador à vista. O encontro no G-20 proporcionou essa chance a Trump.

"Duas coisas movem Trump - uma é o mercado acionário e a outra é o cronograma de tarifas imposto por ele próprio", disse Kim Forrest, gestor sênior de carteiras da Fort Pitt Capital. "Se tivessem desistido e ido embora, haveria enorme queda no mercado."

Repórteres da matéria original: Sarah Ponczek em N York, sponczek2@bloomberg.net;Vildana Hajric em N York, vhajric1@bloomberg.net