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Traders de soja dos EUA duvidam de volta de compradores da China

Isis Almeida

06/12/2018 15h18

(Bloomberg) -- A possibilidade de a China voltar rapidamente a comprar soja americana estimulou uma alta nos futuros em Chicago. Mas os principais traders de grãos e credores dos EUA estão céticos.

Uma trégua de 90 dias entre as duas maiores economias do mundo é considerada um bom começo, mas a disputa comercial vai muito além do humilde grão. A solução de problemas como os direitos de propriedade intelectual e as práticas de comércio justo pode demorar mais tempo, disse William Secor, economista do CoBank, credor de US$ 125 bilhões para o setor agrícola.

Mesmo que os compradores chineses voltassem para o mercado hoje graças à trégua, a tarifa retaliatória de 25 por cento continua em vigor, o que reduz o apelo da oferta americana. Além disso, a melhor época para vender grãos dos EUA para a China já passou e as colheitas na América do Sul estão chegando, de acordo com a Cargill, um dos quatro maiores traders de commodities agrícolas do mundo.

"Não vejo como 90 dias poderiam resolver muitas dessas mudanças estruturais de longo prazo que devem ser feitas", disse Secor na Country Elevator Conference, em St. Louis, nesta semana. "Meu maior receio é não termos nada diferente depois desses 90 dias."

A soja avançou mais de 3 por cento na segunda-feira e conservou esses ganhos nos dois dias seguintes porque as negociações comerciais estimularam o otimismo em relação à retomada das exportações, que estavam praticamente paradas. O secretário de Agricultura dos EUA, Sonny Perdue, disse que a China deve voltar a comprar por volta do ano-novo e que autoridades chinesas tomariam as medidas necessárias para retomar as compras. No entanto, os futuros chegaram a cair 0,8 por cento nesta quinta-feira devido a dúvidas crescentes em relação à iminência das compras.

Os traders estão céticos. A China costuma comprar soja com cerca de três meses de antecedência e, até lá, as colheitas na América do Sul já terão começado, segundo Dave Baudler, diretor administrativo de grãos da Cargill para a América do Norte. Uma alta dos preços no Brasil acarretará uma expansão "enorme" da área plantada no País, disseram analistas do Bank of America Merrill Lynch em relatório.

"Talvez os mercados estejam em alta porque a situação não piorou", disse Baudler em entrevista em St. Louis, na segunda-feira. "Eu diria que estamos esperançosos. Eles nunca tomaram medidas economicamente prejudiciais e, mesmo com a discussão entre os governos, para realizar a transação é preciso que um comprador físico fale com um vendedor físico."

Como ainda não há muitos detalhes sobre o acordo fechado por Donald Trump e Xi Jinping, a reação tem sido um tanto moderada, disse Eric Wilkey, presidente da Arizona Grain e da Associação Nacional de Grãos e Forragens, em entrevista. Vai ser difícil para o mercado prever a realização de "grandes negócios" em apenas 90 dias, disse ele.

"O problema tem que ser resolvido agora, seja para algumas vendas no curto prazo a que se fez alusão - e eu ainda não sei o que isso significa-, seja para o próximo ano-safra", disse Baudler, da Cargill. "Quanto mais cedo eliminarmos a incerteza do mercado para os agricultores, mais cedo teremos um plano para o ano que vem, porque ainda temos que plantar no segundo trimestre."