IPCA
0,83 Abr.2024
Topo

Empresas americanas na Ásia podem sobreviver à guerra comercial

Michelle Jamrisko

07/12/2018 14h36

(Bloomberg) -- As firmas dos EUA que operam na Ásia estão se adaptando à incerteza do comércio global com uma série de táticas de sobrevivência, como a mudança de rótulos de produtos e ajustes em suas cadeias de abastecimento.

"Todas as ferramentas disponíveis estão sendo utilizadas", disse Cindy Owens, uma associada do escritório de advocacia Baker McKenzie Wong & Leow e membro da câmara de comércio AmCham Singapore. Seus clientes estão buscando muitas soluções em "aspectos básicos", já que algumas das questões de maior importância continuam sem solução, disse ela.

Gerry Mattios, vice-presidente executivo da empresa de consultoria Bain & Co. no sudeste da Ásia e também membro da AmCham, diz que as empresas estão fazendo ajustes para aliviar o impacto negativo das tarifas dos EUA e da China. A julgar pela inflação relativamente benigna para o consumidor nos EUA, as empresas conseguiram absorver os custos extras ou repassá-los para partes de sua cadeia de abastecimento, disse Mattios.

Owens e Mattios falaram após a divulgação de um relatório que analisou o impacto da guerra comercial sobre os membros da AmCham, de Cingapura. Os resultados mostraram que cerca de metade das empresas está adiando ou cancelando decisões de investimento.

Como tanto a pesquisa quanto a política sugerem esperar para ver, muitas empresas agora têm mais uma razão para acelerar os planos de desenvolvimento. Owens e Mattios descreveram várias medidas que as empresas já estão tomando:

Mudar rótulo de produtos para acompanhar os regulamentos aduaneirosAjustar a pegada da cadeia de abastecimento para alterar o país de origem de um produtoReestruturar os preços de transferência para reduzir a avaliação de produtos (e, portanto, reduzir as tarifas)Rever as disposições nos acordos de livre comércio existentes para explorar opções para facilitar as operaçõesTransferir pedidos e/ou mão de obra para o Sudeste Asiático e estudar a realocação da produçãoDistribuir os custos das tarifas mais altas pela cadeia de abastecimento da empresaAcelerar os planos de automaçãoEncurtar a cadeia de abastecimento, seja com menos locais ou com locais mais próximos, para reduzir custos

"Historicamente, muitas empresas ignorariam coisas do código de tarifas e não mexeriam no que estivesse funcionando", disse Owens sobre os produtos erroneamente rotulados enquanto a tecnologia e as regras alfandegárias evoluem. "Mas agora há uma razão para rever isso", e alguns clientes descobriram que podem escapar de encargos mais altos simplesmente consertando os rótulos de seus produtos.

Para outras empresas, a guerra comercial ofereceu oportunidades para implementar planos estratégicos que elas projetavam há anos, disse Mattios. Em uma escala maior, a automação está recebendo um grande impulso da guerra comercial. A indústria de eletrônicos de consumo já mostrou grandes avanços lá, mas os setores de vestuário e de peças automotivas também estão apostando nisso, disse ele.

Quanto à trégua estabelecida nas reuniões do último fim de semana entre os EUA e a China, tanto Owens quanto Mattios concordaram que isso não muda muito do ponto de vista de uma empresa.

O que poderia piorar a situação: se os EUA cumprirem a ameaça, agora antiga, de aumentar a tarifa sobre US$ 200 bilhões em produtos chineses, ou se as empresas chinesas retaliarem de novas maneiras contra as empresas americanas.