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Investidor não sabe motivo das reviravoltas nas bolsas dos EUA

Vildana Hajric e Sarah Ponczek

07/12/2018 14h33

(Bloomberg) -- Seria ótimo poder atribuir as convulsões do mercado acionário americano a falta de liquidez, tarifas comerciais, política monetária ou preço das ações de tecnologia.

Nas mesas de negociação das instituições financeiras, nenhuma dessas explicações funciona - e é isso o que realmente preocupa.

A instabilidade é tanta que os movimentos parecem descolados das análises fundamentais ou técnicas usadas para justificar decisões de investimento. Na quinta-feira, o Nasdaq 100 sofreu o maior revertério desde abril, uma virada de quase 3 por cento em meio a poucas notícias. Isso depois de a sessão no mercado overnight de futuros ter começado com tanta pressão de venda que a operadora da bolsa precisou pausar as negociações para garantir o bom andamento da execução.

Existem diversos motivos razoáveis para o aumento da volatilidade ? da trégua frágil na guerra comercial à trajetória subitamente incerta dos acréscimos na taxa básica de juros nos EUA e o temor persistente de desaceleração da economia americana no ano que vem. A questão é que os operadores não conseguem prever que assunto vai dominar as negociações e nem quando.

"O mercado está negociando com base no risco das manchetes", disse Scott Bauer, presidente da Prosper Trading Academy. "Nunca em meus 30 anos como profissional de negociação vi tantos pontos contenciosos juntos e qualquer um deles pode determinar o rumo do mercado, então imagine vários ao mesmo tempo."

A natureza das notícias que movem os mercados também preocupa. Os modelos servem para projetar a trajetória dos juros e interpretar sinais técnicos, mas o que fazer quando o evento que move o mercado é a prisão de uma alta executiva chinesa no Canadá?

Para Michael O'Rourke, estrategista-chefe de mercados da JonesTrading, a questão é que não há como interpretar adequadamente muitas das notícias."É por isso que as pessoas não gostam de risco geopolítico'', ele comentou, se referindo inclusive à interação entre os presidentes dos EUA e da China. "Não dá para analisar como será o encontro entre Trump e Xi, não dá para analisar e concluir que uma executiva chinesa será presa."

A notícia de que a diretora financeira da Huawei foi detida para possível extradição para os EUA entrou na narrativa da guerra comercial ? pelo menos durante parte do dia. O mercado de futuros abriu a sessão overnight com queda acentuada por causa da notícia e o S&P 500 chegou a cair 2,9 por cento pela manhã.

Em seguida vieram os comentários positivos da comandante do Fundo Monetário Internacional, um acordo comercial pareceu mais provável e representantes do banco central americano (Federal Reserve) transmitiram uma postura mais flexível em relação aos juros. Os mercados se recuperaram, mas os operadores continuam tensos.

Ainda não se sabe se as oscilações recentes são reação ao que acontece no comércio internacional ou se os mercados encontraram sinais de que a economia vai tropeçar no ano que vem. O achatamento da curva de juros ? interpretado como indício de recessão ? ficou mais suave na quinta-feira, alimentando especulações de que dados positivos no mercado de trabalho poderiam trazer de volta o sentimento favorável.

Para Dennis Debusschere, estrategista-chefe de carteiras da Evercore ISI, ainda há risco demais para voltar com tudo a um mercado dominado pela volatilidade.

"Ainda inegociável, em nossa opinião, até haver mais clareza em relação à situação comercial, e achamos que compensa esperar", ele escreveu em nota enviada a clientes na quinta-feira. "Dito isso, nossa mesa está aberta a quem estiver disposto a negociar neste ambiente."

--Com a colaboração de Carolina Wilson.

Repórteres da matéria original: Vildana Hajric em N York, vhajric1@bloomberg.net;Sarah Ponczek em N York, sponczek2@bloomberg.net