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Investidor que gera 20% ao ano tenta eliminar fonte da vantagem

Sam Mamudi, Benjamin Robertson e Kana Nishizawa

03/01/2019 11h32

(Bloomberg) -- Quem é craque em escolher ações faz o que pode para se manter à frente da concorrência. Não é mais o caso de David Webb, que atuava no Barclays.

Não que ele seja contra ganhar dinheiro. Após gerar retorno anual de aproximadamente 20 por cento com seus investimentos pessoais em ações de Hong Kong desde 1995 -- mais que o dobro do ganho do principal índice do mercado acionário local --, ele parece contente após acumular uma fortuna de pelo menos US$170 milhões.

O que incomoda Webb é a origem desse desempenho superior. Na visão dele, só foi possível superar de longe o mercado acionário de Hong Kong por causa da governança corporativa fraca e da supervisão regulatória deficiente.

Embora Hong Kong tenha classificação favorável em pesquisas internacionais sobre corrupção e facilidade para fazer negócios, diversos escândalos corporativos e oscilações violentas nos preços de ações de empresas menores abalaram o mercado acionário local nos últimos anos. A razão entre preço e lucro divulgado das componentes do Hang Seng Index está abaixo de 10, uma das menores do mundo.

"Pense em mim como um ótimo mecânico andando por um pátio de carros usados, sem garantias, todos eles com preço descontado por causa do risco de serem ruins'', explicou Webb em um discurso recente na Universidade de Hong Kong. Ao evitar os ativos ruins e "obter desconto substancial nas boas empresas, consegui uma performance melhor''.

Webb quer ajudar o público a escapar dos maus ativos de Hong Kong. Nos últimos 20 meses, ele aconselhou leitores de seu popular website a manter distância de mais de 75 empresas com ações negociadas em bolsa. Muitas delas acabaram sendo alvo da maior operação já feita pela agência reguladora de valores mobiliários de Hong Kong. As empresas que Webb colocou na lista a ser evitada perderam US$ 16 bilhões em valor de mercado desde o alerta do investidor.

Ele não ganha dinheiro com suas recomendações, que ocupam metade do tempo dele. Aos 53 anos e em situação financeira pra lá de confortável, ele aceita distribuir gratuitamente suas pesquisas, mesmo que isso acabe com a carreira dele como um dos melhores do mundo na seleção de ações.

"Não quero chegar ao fim da vida e pensar que fui um ótimo investidor, que me diverti, mas não contribuí para o avanço da condição humana'', ele admitiu em entrevista em seu home office, no bairro de Mid-Levels.

Webb revelou as diretrizes básicas de sua estratégia de investimento:* Ter em carteira aproximadamente 35 ações por vez, mantendo-as, na média, por "cinco anos ou mais''* Sempre apostar na valorização das ações, nunca na queda* Comprar participações grandes em empresas pequenas e não ter medo de atuar como ativista: "Se é para ser acionista minoritário, é melhor ser grande.''* Não usar alavancagem* Procurar empresas com boa governança que são subestimadas* Ler quase todos os documentos que as companhias apresentam às autoridades reguladoras* Evitar ações de empresas com grande valor de mercado, as chamadas large caps* Não aceitar administrar dinheiro de terceiros: "Dá muita dor de cabeça.''

--Com a colaboração de Alfred Liu.

Repórteres da matéria original: Sam Mamudi em Hong Kong, smamudi@bloomberg.net;Benjamin Robertson em Hong Kong, brobertson29@bloomberg.net;Kana Nishizawa em Hong Kong, knishizawa5@bloomberg.net