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Opinião: Surpresa! Farmacêuticas sobem preços de novo

Max Nisen

03/01/2019 14h06

(Bloomberg) -- Em decisão que não deve surpreender ninguém, as farmacêuticas celebraram a chegada de 2019 com aumentos significativos de preços, encerrando o esforço de seis meses do setor para paralisar ou cancelar aumentos em resposta aos tuítes raivosos e às ameaças do presidente dos EUA, Donald Trump.

Dezenas de empresas farmacêuticas aumentaram os preços de centenas de medicamentos, segundo reportagem do Wall Street Journal, e vêm mais aumentos pela frente. Era bastante previsível. A Pfizer foi a primeira a anunciar um congelamento de preços no ano passado, mas afirmou que os aumentos retornariam em janeiro a menos que fossem atendidas certas condições improváveis. Não foram, e cá estamos. Outras empresas, como a Merck & Co., efetuaram mudanças cosméticas, como baixar preços de medicamentos insignificantes. Já a Roche divulgou congelamentos temporários dos preços após a realização dos aumentos planejados.

A retomada das práticas de aumento de preços do setor farmacêutico, mesmo sendo menos extremas do que no passado, mostra o pouco que o setor mudou diante do escrutínio público e regulatório maior. Não se sabe se Trump reagirá à onda de aumentos de preços de janeiro dando broncas nominais nas empresas, como fez no verão passado (Hemisfério Norte). Há outras preocupações na cabeça. Mas o rápido retorno do setor aos negócios de costume mostra que a saída de Trump do púlpito intimidatório dos preços dos medicamentos saiu barata.

Não quer dizer que o setor farmacêutico tenha vencido a guerra: este será um ano particularmente conflituoso no tocante ao debate sobre os preços dos medicamentos, e o setor não se ajuda muito quando basicamente mantém o status quo. Nem mesmo a moderação dos aumentos de preços oferecerá muito isolamento, considerando que o setor está combatendo regulações mais rigorosas. Os aumentos de uma série de medicamentos superam a inflação, e a maioria das remarcações se soma a vários anos de aumentos maiores.

Os democratas retomaram o controle da Câmara dos Representantes, o que pode trazer mais supervisão e projetos de lei mais agressivos no tocante aos preços dos medicamentos. E existem também esforços surpreendentemente robustos do governo Trump para reduzir os preços, incluindo uma medida controversa para indexar os custos de certos medicamentos nos EUA aos preços bastante inferiores cobrados no exterior. O inevitável lobby público e privado do setor contra essas regras propostas neste ano provavelmente o colocará em conflito com o governo, e suas decisões em relação aos preços dão lenha para críticas imediatas.

O setor parece pensar que com a conciliação temporária, e agindo um pouco melhor que antes, conseguirá se salvar de uma regulação maior. Mas a pressa evidente das farmacêuticas para retomar os velhos hábitos apenas chama mais atenção para seu poder ilimitado de fixação de preços e para a frouxa autorregulamentação.

Esta coluna não reflete necessariamente a opinião do conselho editorial ou da Bloomberg LP e seus proprietários.