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Fusão Takeda-Shire de US$ 62 bi renova setor farmacêutico

Lisa Du

08/01/2019 11h41

(Bloomberg) -- A rápida transformação do setor farmacêutico global atingiu outro marco importante na terça-feira, quando a Takeda Pharmaceutical concluiu a aquisição da Shire, por US$ 62 bilhões.

A maior aquisição anunciada em 2018 colocou a companhia japonesa de 237 anos de idade entre as 10 maiores farmacêuticas, com tratamentos lucrativos para doenças raras e presença considerável nos EUA.

As farmacêuticas têm pressa de se consolidar, tentando ganhar tamanho para enfrentar a pressão imposta por legislação mais rigorosa para os preços dos medicamentos e pelo término de patentes. O ano de 2019 mal começou e já foi anunciado um acordo maior que o da Takeda. Na semana passada, a Bristol-Myers Squibb acertou a compra da Celgene por US$ 74 bilhões.

Eis o novo perfil da Takeda em meio à evolução da indústria farmacêutica:

A receita combinada com a da Shire faz da Takeda a primeira companhia japonesa a entrar no ranking das 10 maiores. A nova Takeda estaria na nona colocação pelo critério de receita, mas o acordo da Bristol-Myers com a Celgene, se for adiante, empurrará a Takeda um degrau abaixo. A empresa terá posição única como grande farmacêutica com foco em doenças raras, via tratamentos vindos da Shire.

Um dos principais motivos da aquisição foi ampliar a exposição ao mercado americano, o mais lucrativo do mundo. O Japão não é fonte confiável de expansão por causa do encolhimento da população e da pressão regulatória que reduz os preços dos medicamentos praticamente todo ano. Embora os EUA também tragam riscos em termos de preços, a maioria das gigantes farmacêuticas aceita isso por causa do fluxo de receita.

A Takeda contribuirá ainda mais para o movimento de fusões e aquisições no setor devido à enorme dívida que contraiu. A empresa descreveu a possibilidade de desinvestir US$ 10 bilhões para diminuir a alavancagem. Seu presidente Christophe Weber avisou na segunda-feira que os investidores podem esperar vendas de ativos neste ano.

A empresa pretende se livrar de operações não essenciais fora do Japão, onde não é líder e não tem massa crítica.

O endividamento foi o aspecto mais criticado da operação e levou a S&P Global Ratings a rebaixar a classificação de risco da Takeda na terça-feira, argumentando que dificilmente conseguirá reverter rapidamente a piora das métricas financeiras. A Moody's Investors Service rebaixou a nota da companhia em dezembro.

A dívida líquida vai mais que dobrar para quase 5 vezes o lucro. A empresa vai contrair cerca de US$ 30 bilhões em empréstimos para comprar a Shire e assumir a dívida dela. No setor, esse múltiplo é próximo a 1. A Takeda pretende reduzir a razão entre dívida e lucro para 2 dentro de cinco anos.

A ação da Takeda caiu 26 por cento desde que anunciou interesse em comprar a Shire, no final de março de 2018. Quando apresentou a oferta, em maio, o valor de mercado da Shire estava maior que o seu. A ação sofreu pressão técnica à medida que gestores ajustaram as carteiras para absorver a deslistagem da ação da Shire e a listagem de ADRs (recibos equivalentes a ações) da Takeda na Bolsa de Nova York.

A ação da Takeda avançou 2,3 por cento em Tóquio na terça-feira, após o anúncio da conclusão do acordo e de a SMBC Nikko Securities melhorar a recomendação para o papel, por considerá-lo "profundamente subvalorizado". A ação da Takeda havia subido 7,5 por cento na segunda-feira, a maior alta em quase três anos.

--Com a colaboração de James Mayger.