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BC dos EUA almeja pouso suave da economia: Bloomberg Opinion

Tim Duy

10/01/2019 14h56

(Bloomberg) -- Apesar das críticas do presidente americano Donald Trump ao banco central, argumentando que o Federal Reserve subiu os juros mais além e mais rápido do que deveria, o achatamento da curva de juros no mercado de renda fixa sugere que a taxa básica está em um nível que não estimula nem limita o crescimento econômico.

No entanto, para engendrar um pouso suave após o forte crescimento do ano passado, as autoridades precisam de agilidade para sustentar a expansão, como ocorreu na década de 1990. Manter os juros baixos demais pode levar a desequilíbrios financeiros, mas mantê-los acima do necessário aumenta a ameaça de recessão.

Não há dúvida de que a economia americana está perdendo velocidade, mas o que constitui um pouso suave? Trata-se de uma transição para um ritmo mais lento de crescimento que ainda é suficiente para deixar o desemprego relativamente constante e afastar pressões inflacionárias. Porém, um pouso suave para a economia não significa necessariamente um pouso suave para os investidores, que já sofreram com o desempenho dos mercados no trimestre passado à medida que as preocupações com a desaceleração econômica se intensificaram.

Outra característica do pouso suave seria uma trajetória relativamente estável para os juros de curto prazo. Em uma economia que não está lenta demais nem superaquecida, é de se esperar uma política monetária constante. Não é isso o que a curva de juros reflete no momento, estando praticamente chata até o termo de cinco anos e se inclinando muito pouco depois disso. O quadro sugere que os operadores do mercado de títulos não esperam grandes mudanças na taxa básica de juros no médio prazo.

Não esperar grandes mudanças não é o mesmo que não esperar mudança alguma. O Fed precisará alterar a política monetária de tempos em tempos para manter a expansão nos trilhos.

A situação atual é parecida com a da década de 1990. Durante a maior parte daquele período, a curva de juros permaneceu praticamente achatada, sugerindo que o Fed estava focado em sustentar a expansão e não reagindo a uma recessão. É o que acontece agora.

Definir a política monetária fica mais difícil, não mais fácil neste contexto. É fácil decidir a política monetária em uma recessão, basta cortar os juros. O estágio inicial da reversão desse ciclo também é simples: os juros devem estar longe o bastante da neutralidade para que o Fed tenha espaço para subir sem grandes restrições. No momento, a trajetória adiante não é óbvia. O banco central pode precisar elevar ou baixar juros para reagir a choques de natureza positiva ou negativa.

O Fed precisará avaliar quais choques exigem uma resposta, a magnitude da resposta, o momento adequado para implementá-la e o momento certo para revertê-la. Cada decisão implica desafios com potencial para provocar instabilidade financeira ou recessão. Será que a resposta do Fed à crise financeira asiática foi exagerada e os juros baixos demais criaram o ambiente que causou a bolha das ações ponto-com?

Ou será que a magnitude da resposta foi correta, mas a resposta não foi revertida a tempo? Ou será que a reversão foi exagerada e desencadeou ? ou ao menos agravou ? a recessão subsequente?

O Fed precisará de habilidade e um tanto de sorte para manter a economia nos trilhos. É importante acompanhar como a instituição enxerga a inflação. O Fed continua achando que as pressões inflacionárias permanecem contidas? Se for o caso, vai errar no sentido de estabelecer uma política monetária mais branda, capaz de sustentar a expansão, mas que cria risco de excessos financeiros.

Por outro lado, se o Fed tiver mais preocupação com a inflação, ficaria inclinado a manter a política monetária apertada por tempo demais, mesmo diante de choques negativos. É preciso ficar de olho na curva de juros quando se estuda esses dois cenários. Se a curva de juros se inverter e o Fed continuar elevando os juros, desconfio que o fim da expansão da economia dos EUA despontará no horizonte.

Esta coluna não necessariamente reflete a opinião do comitê editorial ou da Bloomberg LP e seus proprietários.