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Setor de bebidas dos EUA não vê impacto da maconha legalizada

Craig Giammona

10/01/2019 11h39

(Bloomberg) -- Em meio à flexibilização das restrições à maconha nos EUA, o senso comum diz que a erva é ruim para a indústria de bebidas alcoólicas porque os consumidores que têm acesso a maconha legal bebem menos.

Mas isso não é verdade, segundo um novo estudo de um grupo que representa o setor de bebidas alcoólicas. O Conselho de Bebidas Destiladas dos EUA (Discus, na sigla em inglês), que representa empresas como Bacardi, Diageo e Constellation Brands, afirma que a venda de bebidas alcoólicas per capita em Washington, no Oregon e no Colorado, os três mercados mais antigos de maconha para uso recreativo dos EUA, não foi prejudicada pela legalização.

"Tem havido muita informação errônea", disse Chris Swonger, CEO do grupo. "Não observamos nenhum impacto nos estados analisados."

Usando notas fiscais e dados de remessas, o grupo descobriu que as vendas de destilados subiram 7,6 por cento no Colorado desde o início da venda de maconha legal, em 2014, e que o ganho foi de 5,4 por cento em Washington, onde as vendas começaram no mesmo ano. Essas tendências das vendas de bebidas estão mais ou menos em linha com a média nacional, segundo David Ozgo, economista-chefe do conselho.

Ozgo disse que os relatórios que indicam que as vendas de bebidas alcoólicas serão prejudicadas pela maconha legalizada têm sido baseados principalmente em dados de pesquisas de opinião, nas quais os consumidores dizem aos pesquisadores que beberiam menos. Mas as pessoas costumam mentir quando questionadas sobre a quantidade de álcool que consomem, disse ele.

Apesar de a venda de destilados e vinhos ter aumentado em todo o país, a queda da cerveja derrubou a indústria de bebidas alcoólicas em geral. Quando as três categorias são combinadas, as bebidas alcoólicas se mostram estáveis desde a legalização da maconha nos três estados estudados.

Ainda existe a preocupação de que o acesso maior à maconha possa prejudicar o álcool e, particularmente, a cerveja. Vivien Azer, que cobre maconha e bebidas alcoólicas na Cowen & Co., disse recentemente que 2018 "parece ter sido o pior ano para a venda de cerveja em quase uma década de cobertura do setor de bebidas alcoólicas, e continuamos acreditando que o uso crescente de cannabis teve influência".

O consumo de cerveja subiu 1,4 por cento nos EUA desde 2014, mas caiu nos dois últimos anos, segundo dados da IRI compilados pela Bloomberg.

A venda de cerveja per capita caiu 2,3 por cento a 3,6 por cento nos três estados desde a legalização da maconha, mas Ozgo argumenta que a queda ocorreu em meio ao declínio mais amplo da cerveja nacionalmente.

O vinho e os destilados tiram participação de mercado da cerveja há anos, e marcas em declínio, como Coors Light e Budweiser, podem estar na linha de tiro com a expansão da maconha legal para mais estados. A cerveja e a cannabis dividem seu público principal, homens jovens, e é razoável supor que a renda discricionária destinada a cigarros eletrônicos e doces de maconha pode prejudicar as vendas de cerveja, disse Ken Shea, analista da Bloomberg Intelligence.

"A cerveja é um produto que obviamente pode ser atingido", disse. "Não é apenas questão de escolha entre um ou outro. Em vez de três cervejas, o consumidor pode tomar duas cervejas e fumar um cigarro de maconha."