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JBS e frigoríficos de suínos dos EUA testam operação acelerada

Andrew Martin

01/02/2019 14h12

(Bloomberg) -- Em uma cidade à beira do rio Illinois onde Abe Lincoln trabalhou como advogado rural, o abatedouro do futuro opera a uma velocidade inimaginável para diversas gerações de produtores do Centro-Oeste dos EUA.

Em outras unidades, há até sete inspetores do governo instalados ao longo da linha de abate em busca de sinais de contaminação ou doenças. Aqui, em Beardstown, Illinois, os trabalhadores assumem uma maior parte dessa responsabilidade.

Quatro inspetores do governo federal supervisam tudo como árbitros de tênis. Eles tentam identificar possíveis perigos à medida que as carcaças passam, antes de serem cortadas em costeletas e pernis. Pertencente à empresa brasileira JBS e conhecida por sua marca de suínos Swift, a unidade é um modelo de eficiência letal. Ela mata até 21.000 porcos por dia - até 1.300 por hora.

Nas últimas duas décadas, com a bênção do governo, a usina de Beardstown e outras quatro processadoras de suínos nos EUA têm sido pioneiras deste ambicioso - e, para alguns, inquietante - experimento de segurança alimentar. Além de operar com menos inspetores, esses frigoríficos não obedecem a uma antiga norma de segurança do governo estipulada para proteger os consumidores de doenças.

O governo federal costuma limitar a velocidade na linha de abate a 1.106 porcos por hora. Nestas unidades, que fazem parte de um programa-piloto do governo, as empresas podem operar à velocidade que quiserem.

O governo de Donald Trump quer oferecer o modelo de Beardstown a outros abatedouros e estima que 40 unidades acabarão participando. Juntos, eles processam mais de 90 por cento dos 120 milhões de suínos abatidos nos EUA a cada ano.

O programa faz parte de uma missão mais ampla de promoção do crescimento econômico com a flexibilização de regulamentações em vários setores, como energia, serviços públicos e, agora, alimentos. As velocidades mais altas na linha de abate, que podem ser aprovadas nacionalmente em abril, poderiam gerar US$ 2 milhões adicionais por ano para uma unidade média de grande porte, estima o governo.

Além disso, o Departamento de Agricultura dos EUA (USDA, na sigla em inglês) afirma que uma supervisão flexível resultaria em um maior controle de agentes patogênicos e em condições mais seguras para os trabalhadores. Em comentários escritos sobre o plano proposto, Jim Heimerl, presidente do National Pork Producers Council, afirmou que o USDA deveria ser elogiado por "identificar modos de formar parceria com o setor" para aumentar a eficiência e a segurança alimentar.

Contudo, entrevistas com funcionários e inspetores, e dados e relatórios internos do próprio governo, levantam sérias dúvidas sobre os benefícios de deixar de lado os métodos antigos. Auditores federais concluíram que o experimento do USDA abrange muito poucas unidades para justificar grandes mudanças nas inspeções para todos os matadouros de porcos. Cientistas e ativistas caracterizaram as afirmações do USDA de enganosas e seletivas.

"Para o USDA, esta nunca foi uma questão de saúde pública", disse Amanda Hitt, diretora da Campanha de Integridade Alimentar do Government Accountability Project, um grupo de defensa de delatores. "O objetivo sempre foi enriquecer os setores que supostamente eles deveriam regular."