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Fim da febre cripto: evento em Paris foca em revolução em bancos

Edward Robinson

04/02/2019 16h03

(Bloomberg) -- A febre das criptomoedas realmente acabou.

Essa foi uma das grandes conclusões do Paris Fintech Forum, um dos maiores encontros anuais do gênero na Europa. Cerca de 3.000 empreendedores, investidores, executivos bancários e representantes de órgãos reguladores se reuniram no neoclássico Palais Brongniart, que já abrigou a bolsa de valores. No ano passado, com a alta do bitcoin e de seus imitadores, os participantes travaram discussões sobre a tecnologia blockchain.

"Perdi quase toda a minha equipe para as criptomoedas", disse Will Andrich, CEO da suíça Thaler.One, que afirma criar títulos digitais lastreados por imóveis.

Neste ano não houve nenhum problema desse tipo. Com a queda de 80 por cento dos 10 principais ativos de criptomoedas nos últimos 12 meses e o crescente ceticismo, muitos profissionais do ramo de tecnologia financeira concluíram que a tecnologia talvez não esteja pronta para se popularizar, especialmente em um setor tão fortemente regulado.

Em vez disso, a conferência enfocou o retorno aos fundamentos do setor bancário. Sessões sobre a construção de bancos sem agências tiveram lotação máxima, os investidores comentaram que 2019 poderia ser um ano excepcional em termos de fechamento de negócios e o momento mais polêmico se deu em um painel sobre os antiquados empréstimos.

Nos bastidores, personalidades das finanças tradicionais e do mundo das startups tomaram café juntos e mostraram entusiasmo. Recém-chegada de Davos, Christine Lagarde, diretora administrativa do Fundo Monetário Internacional, conversou com Kathryn Petralia, cofundadora da Kabbage, uma firma com sede em Atlanta que realiza pontuações de crédito e empréstimos automatizados. No palco, o presidente do Banco da França, François Villeroy de Galhau, debateu longamente sobre inteligência artificial com Olivier Guersent, diretor-geral de estabilidade financeira da Comissão Europeia. "Estou muito animado com as cadeias de abastecimento", disse Ann Cairns, vice-presidente do conselho da Mastercard.

Como a nova lei de pagamentos da Europa agora exige que os bancos compartilhem dados das contas dos clientes com as empresas de tecnologia financeira, o sentimento predominante era que há muitas possibilidades que não envolvem as criptomoedas.

Talvez nada tenha reforçado mais esse argumento do que o confronto entre Gottfried Leibbrandt, CEO da Swift, e Brad Garlinghouse, CEO da Ripple Labs, com sede em São Francisco. A Swift é uma cooperativa de 46 anos que direciona trilhões de dólares em pagamentos internacionais entre milhares de bancos. Garlinghouse prometeu diversas vezes deixar de lado o sistema concebido pela Swift nos anos 1970, substituindo-o por um sistema mais rápido e barato, parecido ao blockchain.

"Eu olho para a dinâmica entre Ripple e Swift e a comparo à dinâmica entre Amazon e Wal-Mart", disse Garlinghouse, na quarta-feira, para um auditório lotado.

Leibbrandt respondeu que, durante dois anos, o padrão de pagamento mais recente da Swift revitalizou seu sistema, permitindo que os clientes monitorassem um pagamento como se fosse um pacote da FedEx e reduzindo o tempo de transferência a horas. Diferentemente da Ripple, que tem tido dificuldades para se aliar a grandes bancos, Leibbrandt disse que os 60 maiores bancos do mundo estão utilizando sua tecnologia, que já é adotada pelos órgãos reguladores.

"Os bancos não estão prontos para um modelo em que se converte a criptomoeda e depois se faz uma nova conversão", disse Leibbrandt. "Não está claro para nós que o blockchain seja melhor do que o que temos hoje."