Lições de quem lidou com crise de dívida, guerra e furacão
(Bloomberg) -- Natalie Jaresko, que trabalha no pedido de falência de Porto Rico, conhece bem os riscos dos empréstimos governamentais. Nascida em Chicago, ela morou na Ucrânia por 25 anos, onde foi uma das fundadoras de uma firma de private equity e depois atuou como ministra das Finanças, supervisionando a reestruturação da dívida do país e o programa do Fundo Monetário Internacional quando a guerra exauriu os recursos públicos.
No começo de 2017, ela aceitou o convite para se mudar para Porto Rico e liderar o comitê federal encarregado de reduzir a dívida de US$ 74 bilhões e US$ 50 bilhões em obrigações previdenciárias.
Meses depois, o furacão Maria destruiu a ilha, acabou com a rede elétrica e matou milhares de pessoas.
Jaresko, que faz 54 anos neste mês, conversou com a repórter da Bloomberg News, Michelle Kaske, sobre como governos e investidores devem avaliar dívidas e riscos.
MICHELLE KASKE: Como você compara as crises financeiras da Ucrânia e de Porto Rico?NATALIE JARESKO: Embora a população da Ucrânia seja 10 vezes maior do que a de Porto Rico, cada economia movimenta cerca de US$ 100 bilhões. A dívida era muito parecida: US$ 74 bilhões, US$ 70 bilhões. Então o tamanho do problema era muito similar, mas a natureza da dívida é muito diferente.A reestruturação de dívidas soberanas é um pouco mais flexível, mas em Porto Rico existe uma enorme variedade de regras, regulamentos e leis que precisam ser obedecidos em cada reestruturação de dívida. Existem diferenças enormes em termos de prioridade.
MK: E cada uma teve sua catástrofe: em Porto Rico foi o furacão e, na Ucrânia, a guerra.NJ: Esses eventos se somaram à crise de dívida. No caso da guerra, 20 por cento do PIB literalmente foi embora. Estava fisicamente nos territórios ocupados. Em Porto Rico, todo o sistema elétrico caiu. A situação fiscal fraquíssima ficou 100 vezes pior com a guerra na Ucrânia e o furacão em Porto Rico.
MK: Você cresceu em Chicago, mas passou boa parte da vida adulta na Ucrânia. Como foi se mudar para uma ilha caribenha?NJ: O que me atraiu para Porto Rico foi a possibilidade de usar as habilidades e experiências que tive na Ucrânia, após conseguir a reestruturação da dívida e também o reequilíbrio fiscal, mesmo em tempos de guerra, quando precisamos gastar mais com segurança nacional.Sou filha de imigrantes que saíram da experiência com nazistas, Segunda Guerra Mundial e União Soviética e eu tinha muita confiança no sistema dos EUA. De que é possível descer de um navio sem nada e trabalhar duro. Minhas duas avós eram analfabetas e mesmo assim eu estudei em Harvard.Eu também acredito que o modelo funciona, que uma classe média forte é o pilar da democracia e o pilar de um orçamento robusto.
MK: Quais lições da Ucrânia podem ajudar Porto Rico?NJ: Não desperdice uma crise. A vontade política para tomar providências difíceis está mais disponível quando a classe política sente uma crise. A segunda grande lição é que é preciso ter defensores. Cada reforma é extremamente difícil. É preciso de alguém que inspire e passe para a população a sensação de que é preciso fazer algo agora e que não se pode esperar.
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