Grandes fortunas circulam sem muita ostentação em Taiwan
(Bloomberg) -- Para aguçar o interesse por uma pintura de Mark Rothko avaliada em US$ 50 milhões que pretende vender em Nova York, a Sotheby's levou a tela para a Ásia. Sem contar a sede regional da casa de leilões em Hong Kong, o quadro fez apenas uma parada. Não foi em Xangai, Tóquio ou Cingapura, mas em Taipé.
"Levamos a obra de arte até onde os compradores estão", disse Patti Wong, presidente da Sotheby's Asia, que organizou dois dias de exibição prévia, com a presença do casal Maggie e Richard Tsai e de Pierre Chen, presidente da Yageo. "O mercado taiwanês é extremamente importante para nós."
A China pode estar produzindo bilionários mais rápido do que qualquer outro país, mas Taiwan vem erguendo fortunas desde a década de 1950.
Segundo a edição de 2019 do Wealth Report (Relatório da Riqueza), elaborado pela Knight Frank, Taipé é a oitava cidade com mais indivíduos de elevadíssimo patrimônio líquido. Ali vivem 1.519 pessoas com pelo menos US$ 30 milhões em ativos. A corretora de imóveis prevê que o número chegue a 1.864 até 2023.
A construção de fortunas na ilha de 23,6 milhões de habitantes começou para valer na década de 1970, com a proliferação de centenas de pequenas fábricas que produziam desde televisores a bonecas Barbie, impulsionando as exportações que formaram a base do crescimento econômico de Taiwan. Na década de 1980, o local já atuava na parte de maior valor das cadeias de produção, fabricando componentes eletrônicos e tendo na liderança empresas de computadores e chips como Acer e Taiwan Semiconductor Manufacturing.
Quando a China começou a se abrir para investimentos, muitas companhias de Taiwan transferiram produção para lá para aproveitar a expansão da indústria chinesa.
O dinheiro que retornava a Taiwan foi criando impressionantes símbolos de riqueza. Quando o edifício Taipei 101 foi inaugurado, em 2004, era o mais alto do mundo na época e sede da maior loja Christian Dior do planeta.
Ainda assim, boa parte do dinheiro dos empreendedores de Taiwan permanece no exterior. Segundo relatório do UBS Group, os taiwaneses mantêm US$ 500 bilhões em ativos offshore, ficando somente atrás dos chineses (US$ 1,4 trilhão) e americanos (US$ 700 bilhões).
Os nativos também gostam de imóveis. Segundo a Knight Frank, indivíduos da classe mais abastada de Taiwan são donos de 5,4 residências cada, na média. No caso dos ricos de Hong Kong, são 4, e no Oriente Médio, 4,6.
Ao contrário dos milionários asiáticos estereotipados retratados no filme "Podres de Ricos", as famílias da elite de Taiwan evitam ostentar.
"Não somos vistosos", disse Tsai, admirador de obras de arte que comanda a Fubon Financial Holding junto com o irmão. "Os taiwaneses aprenderam com os japoneses a importância da modéstia e valorizam a virtude tradicional chinesa da humildade".
Dennis Chen, responsável por gestão de fortunas do UBS em Taiwan, concorda: "A maioria dos nossos clientes nunca voa na classe executiva."
O que não quer dizer que os 1 por cento mais ricos de Taiwan não saibam aproveitar o dinheiro que têm ? eles apenas fazem isso sem alarde, explicou Annie Leung, presidente do Bellavita, shopping de luxo no coração de Taipé. O shopping tem uma área VIP com provadores onde os consumidores bem de vida podem experimentar roupas e joias caras sem precisar entrar nas lojas. A Hermès até fornece bolsas marrons genéricas para pessoas que não querem que outros vejam como gastam.
"Elas não querem andar pela rua com uma bolsa laranja chamativa", disse Annie Leung, filha de C.C. Leung, um dos fundadores da Quanta Computer. "Consumidores sofisticados gostam de gastar dinheiro, mas nem sempre gostam de ser vistos."
--Com a colaboração de Manuel Baigorri.
Repórteres da matéria original: Frederik Balfour em Hong Kong, fbalfour@bloomberg.net;Chinmei Sung em Taipé, csung4@bloomberg.net
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