Logo Pagbenk Seu dinheiro rende mais
Topo

Depreciação cambial adia definição do preço da soja argentina

Jonathan Gilbert

03/04/2019 15h48

(Bloomberg) -- Produtores de soja da Argentina estão brincando de estátua, aguardando a melhora dos preços enquanto a moeda local se deprecia e EUA e China se aproximam de um acordo comercial.

Fazendeiros dos Pampas assinaram contratos de preço adiado para aproximadamente 75 por cento das 11,1 milhões de toneladas que venderam a exportadoras e empresas que processam soja, segundo dados do governo. Nesta mesma época do ano passado, a parcela era de 60 por cento.

Nos contratos de preço adiado, os fazendeiros fazem a colheita e transportam o produto até o porto, mas estabelecem um prazo mais adiante para definir o preço e receber o pagamento. A colheita apenas começou e muitos contratos foram assinados antes. A Argentina é a maior exportadora mundial de farelo de soja.

Os contratos podem favorecer fazendeiros que têm a possibilidade de obter dinheiro de outra maneira e pagar dívidas que contraíram para fazer o plantio. Neste ano, muitos agricultores estão vendendo milho no mercado à vista para honrar essas dívidas. A expectativa é de safra recorde para o milho.

No caso da soja, eles preferem esperar para receber porque os preços estão baixos e a expectativa é que subam quando houver progresso substancial nas negociações comerciais entre EUA e China.

Após a China impor restrições às commodities agrícolas produzidas nos EUA, os preços globais caíram por causa da incerteza sobre a demanda.

Outro agravante é que o peso argentino é a moeda de pior desempenho no mundo. Quanto mais o fazendeiro aguarda, mais pesos deve receber pela soja, que é cotada em dólares. Esta é também uma boa forma de proteção contra a inflação nas nuvens que castiga a Argentina.

A brincadeira de estátua pode virar uma profecia autorrealizável para o peso, desafiando projeções de que a taxa de câmbio se estabilizará em abril com a chegada dos dólares provenientes da venda da safra. Porém, os exportadores não são obrigados a vender dólares no mercado de câmbio até chegar a hora de pagar os fazendeiros.

"É um modo de especular", disse Patricio Watson, agricultor da província de Córdoba. Ele compara os riscos que os fazendeiros assumem nesses contratos aos de uma noite no cassino.

Os agricultores também fazem essas transações porque não precisam gastar com o armazenamento do produto. Sacos plásticos extensíveis para silagem, por exemplo, custam centenas de dólares e os grãos armazenados neles podem estragar com a chuva.

Para compradoras como Bunge e Cargill, o fornecimento de soja diretamente do campo permite funcionamento imediato dos equipamentos, uma vez que as usinas estão rodando com apenas 50 por cento da capacidade.

--Com a colaboração de Michael Hirtzer.