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Odiadas e desprezadas: ações europeias podem perder relevância

Justina Lee

08/05/2019 13h28

(Bloomberg) -- É frustrante ser líder de torcida dos mercados europeus nos dias de hoje.

Investidores continuam tirando dinheiro de aplicações em renda variável na região, com fluxos positivos em apenas duas nas últimas 60 semanas. Estrategistas têm chamado a Europa de "refluxo do investimento" e de "posição vendida mais lotada". Valuations baratos não foram suficientes para aliviar as preocupações de gestores de recursos, que incluem política volátil, desaceleração econômica, tensões comerciais e escassez de ações de grandes empresas de tecnologia.

"Se você viaja pelo mundo constantemente, muitas vezes se depara com a questão do `basket case' da Europa", disse Steen Jakobsen, economista-chefe e diretor de investimentos do Saxo Bank. "Se conversar com um gestor de fundos dos EUA, ele vai dizer: `por que eu deveria me importar?'".

Os dados confirmam isso. Os saques de investidores no mercado de renda variável europeu somaram US$ 4 bilhões na semana até 1 de maio, segundo relatório do Bank of America Merrill Lynch, citando dados da EPFR Global. Todo o fluxo de capital para o mercado, desde a promessa feita em 2012 pelo presidente do Banco Central Europeu, Mario Draghi, de fazer ``o que fosse preciso'' para preservar o euro foi eliminado, segundo a corretora Sanford C. Bernstein & Co.

É difícil imaginar investidores eliminando quase 20% do mercado global de ações. Cada vez mais, o receio é de que muitos dos problemas da Europa sejam estruturais, e os investidores estrangeiros não podem ser forçados a tentar identificar o que está por trás das manchetes. Esse fator é importante porque investidores estrangeiros respondem por uma parcela muito maior do mercado europeu do que nos Estados Unidos.

Desde a década de 1970, o percentual de ações da União Europeia nas mãos de estrangeiros mais do que quadruplicou para 45% em 2012, segundo dados do Observatoire de l'Epargne Européenne. Investidores dos EUA muitas vezes respondem por uma pequena parcela e se movimentam mais rápido do que as instituições europeias, disse Edmund Shing, chefe de renda variável e de estratégia de derivativos do BNP Paribas.

Embora vários analistas tenham prenunciado um renascimento das ações europeias nos últimos anos, citando valuations muito mais baratos, o desempenho da região ficou aquém dos EUA, Hong Kong e Japão nos últimos cinco anos. Os componentes do Stoxx 600 são negociados, em média, com uma relação de 13,6 vezes o lucro estimado de 12 meses, em comparação com 16,6 vezes do S&P 500.

Muitas das tendências que limitaram o interesse em ações europeias parecem persistir. A desaceleração do comércio é ruim para uma região impulsionada pelas exportações. O populismo alimenta a narrativa de uma Europa em desintegração. E a `japanificação'- envelhecimento da população, com baixas taxas de natalidade - aponta para uma desaceleração econômica de longo prazo. Investidores focados em tecnologia preferem o gigantes corporativos dos EUA, como a Alphabet, do Google.

"Quando você combina todas essas coisas, tem um coquetel que parece muito assustador e que se manifesta em algumas distorções muito estranhas", como juros negativos, disse Kimball Brooker, cujo First Eagle Global Fund tem 17% de seus US$ 49,3 bilhões investidos na Europa. E, embora a integração europeia traga benefícios, também leva investidores a avaliarem seus problemas de forma coletiva, acrescentou.

Para contatar o editor responsável por esta notícia: Marisa Castellani, mcastellani7@bloomberg.net