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Mais usinas trocam açúcar por etanol no Brasil, diz trading

Isis Almeida

15/05/2019 09h59

(Bloomberg) -- As usinas brasileiras estão trocando o açúcar pelo etanol, diante da crescente demanda pelo combustível no país.

Essa é a avaliação da Alvean, maior trading de açúcar do mundo, uma joint venture entre a gigante de agronegócio americana Cargill e a Copersucar. Com os preços do etanol superando as cotações do açúcar, as usinas da principal região produtora do país vão destinar 33,5% da safra deste ano para o processamento de açúcar, a menor proporção já registrada, disse Paulo Roberto de Souza, presidente da Alvean.

O clima úmido que assola o Centro-Sul do país reduziu a quantidade de açúcar por tonelada de cana, levando as usinas a produzirem mais biocombustível. No primeiro mês da safra de 2019-20, iniciada em abril, a produção de açúcar já estava 1 milhão de toneladas abaixo do volume um ano antes, quando o Centro-Sul produziu quantidades recordes de etanol para a temporada, segundo dados da Unica.

"Só nesta fase inicial da colheita, já temos 1 milhão de toneladas a menos", disse Souza em sua primeira entrevista depois de assumir a presidência da Alvean, em março. "Essa tendência de produzir mais etanol vai continuar até o fim do ano."

A moagem das usinas no Centro-Sul deve somar 575 milhões de toneladas de cana, produzindo 25 milhões de toneladas de açúcar, segundo estimativas da Alvean. O volume é ainda menor do que no ano passado, quando a maior parte do setor acreditava que o Brasil havia atingido seu potencial máximo de produção de etanol. Melhorias na capacidade de etanol poderiam reduzir a produção de açúcar em outro 1 milhão de toneladas, disse.

Supersafras em países como Índia e Tailândia causaram um excesso de oferta no mercado global de açúcar, pressionando os contratos futuros. Ao mesmo tempo, preços mais altos do petróleo e um real mais fraco ajudaram a deixar o etanol mais competitivo do que a gasolina. As previsões da Alvean levam em conta o barril Brent cotado a US$ 70 e uma taxa de câmbio que não ultrapasse a barreira de US$ 4.

"O que poderia ir contra este cenário? O real", respondeu Souza durante a Semana do Açúcar de Nova York. "Se o real se desvalorizar muito, isso vai afetar os preços em Nova York. E o petróleo; se por algum motivo o petróleo cair nesse período. Essas duas coisas têm uma correlação muito forte" com os preços do açúcar, acrescentou.

Menos açúcar no Centro-Sul do Brasil poderia empurrar o mercado para um déficit de 7 milhões de toneladas em 2019-20, segundo estimativas da trading. Nesta safra, o mercado mostra superávit de 3 milhões de toneladas, mas bem menor do que o enorme excedente de 17 milhões de toneladas no ano anterior. Ainda assim, uma grande parte do estoque global está na Índia, onde o apoio do governo é necessário para estimular as exportações.