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Temporada mais úmida da história atrasa plantio nos EUA

Michael Hirtzer, Shruti Date Singh e Isis Almeida

03/06/2019 13h27

(Bloomberg) -- Nunca houve uma temporada de plantio de primavera como a atual nos Estados Unidos. Rios transbordaram. Diques se romperam. Os campos estão cheios de água e lama. E continua chovendo.

Estava chovendo quando os fazendeiros americanos, em um ano em que são empurrados para fora do maior mercado de soja do mundo devido à guerra comercial com a China, deveriam começar a semear. Estava chovendo quando o presidente Donald Trump arriscou começar uma disputa com o México, o maior importador de milho dos EUA, com a ameaça de impor tarifas às exportações do país.

As chuvas torrenciais podem parar em breve, mas as camadas de incerteza continuam aumentando.

Agricultores que perderam acesso aos importadores chineses de soja não veem alívio no horizonte. Outros países podem ganhar terreno nas exportações de milho. Com o Brasil colhendo uma supersafra enquanto agricultores dos EUA observavam a chuva, importadores da Ásia buscam os grãos da América do Sul.

Agora as atenções se voltam para o México, que comprou cerca de US$ 5,5 bilhões em grãos e soja dos EUA no ano passado. As tarifas também podem suspender a ratificação do novo acordo comercial entre México, EUA e Canadá, disse Beth Ford, presidente da Land O'Lakes. "O estresse já está no ponto de inflexão para muita gente no país agrícola", disse. "A última coisa que precisam agora é de mais incerteza."

"Podemos dizer que nunca houve uma situação geopolítica nos tempos modernos como a que temos agora", disse Matt Campbell, consultor de gestão de risco da INTL FCStone, em e-mail.

Também nunca choveu tanto. Os 12 meses que terminaram em abril foram os mais chuvosos da história em território americano. O recorde levou a outros: as plantações de milho estão mais atrasadas para esta época do ano desde que os dados começaram a ser monitorados em 1980, e analistas estimam que 2,5 milhões de hectares destinados à plantação do grão podem simplesmente não ser semeados este ano, um fato inédito.

Em meio ao dilúvio, também houve queda dos preços do boi magro destinado para engorda com milho, cuja cotação subiu 18% em maio, a maior alta mensal desde 2015. E o rali dos grãos derrubou as ações da Tyson Foods e Pilgrim's Pride, cujas galinhas se alimentam do grão.

Ao mesmo tempo, a demanda por fertilizantes e outros produtos químicos agrícolas foi atingida. Hedge funds que fizeram grandes apostas de que os preços do milho teriam forte queda reduziram essas posições esta semana, segundo dados da Comissão de Negociação de Futuros de Commodities dos EUA divulgados na sexta-feira.

(Com a colaboração de Mario Parker e Brian K. Sullivan)