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Quebra na safra de milho nos EUA pode ser pior que previsões

Mario Parker

14/06/2019 15h07

(Bloomberg) -- James McCune, agricultor de Illinois, afasta o dedo indicador do polegar para mostrar a altura das plantas prejudicadas pela chuva incessante e pela temperatura atipicamente fria para esta época do ano.

"Os pés de milho não deveriam ter este tamanho" em meados de junho, reclamou McCune. "Deveriam ter esta altura", mostrou ele apontando para abaixo da cintura.

As condições são tão ruins e o desânimo é tamanho na região que ele organizou um encontro no bar-restaurante The Happy Spot, em Deer Grove. Apareceram 125 agricultores e outros vinculados ao setor para o evento apelidado de "festa da área não plantada". Illinois geralmente produz a segunda maior safra de milho entre os Estados americanos.

"Vai ser uma tragédia", prevê McCune.

Os fazendeiros enfrentam múltiplos obstáculos. Chuvas recordes alagaram ruas no Centro-Oeste do país e atrapalharam o tráfego de embarcações no Rio Mississippi, rota fundamental para entrega de insumos agrícolas e distribuição dos produtos. O Departamento de Agricultura baixou as estimativas para a safra no relatório deste mês. Foi somente a quarta vez desde 2000 que o governo foi obrigado a reduzir os dados em junho.

Segundo McCune e outros agricultores que compareceram ao evento no The Happy Spot, o relatório não captura a gravidade da situação.

Bryan Snetcher, da terceira geração de fazendeiros de uma mesma família da cidade de Shannon, conta que finalmente conseguiu plantar, mas tem enfrentado enormes dificuldades.

"A gente trabalha por uma semana" na terra e "então chove por três dias e, uma semana depois, é preciso fazer tudo de novo", disse Snetcher. "Estou cansado de lidar com tanta lama neste ano."

Além da chuva, os fazendeiros sofrem com a guerra comercial com a China desencadeada pelo presidente Donald Trump. McCune e Snetcher apoiam Trump, citando práticas comerciais injustas pelo país asiático. O governo americano prepara uma segunda rodada de pagamentos aos fazendeiros por causa das tarifas e estuda liberar recursos para produtores que não conseguiram plantar e semeiam outra safra.

Mark Wetzell, fazendeiro da cidade de Tampico, alertou que o impacto no Cinturão do Milho será duradouro. "Vai levar uns dois anos para as pessoas se acertarem."

--Com a colaboração de Michael Hirtzer e Dominic Carey.