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Para CEO de mineradora dos EUA, otimismo sobre Vale é "ingênuo"

Matthew Townsend

21/06/2019 08h38

(Bloomberg) -- O CEO da Cleveland-Cliffs, Lourenço Gonçalves, que já alertou sobre uma escassez generalizada de minério de ferro, se mostra cético em relação ao impacto da oferta da Vale no mercado global.

Na quarta-feira, a Vale conseguiu derrubar uma liminar que havia suspendido a utilização da barragem Laranjeiras, que recebe os rejeitos das atividades de mineração da Mina de Brucutu, em Minas Gerais. A mina responde por quase um terço das 93 milhões de toneladas de capacidade que a mineradora precisou paralisar depois do rompimento da barragem de Brumadinho, em janeiro.

"As pessoas precisam ser realmente ingênuas para pensar que o único impedimento para a Vale recomeçar é porque a Justiça não permite, é ridículo", disse Gonçalves em entrevista à margem de uma conferência do setor em Nova York, na quarta-feira. "A situação vai além de uma sentença judicial."

Uma porta-voz da Vale não respondeu a um pedido de comentário além do comunicado da empresa sobre a decisão do Superior Tribunal de Justiça (STJ) na quarta-feira.

Os preços do minério de ferro subiram mais de 50% este ano em Cingapura diante do maior controle do governo sobre as operações da Vale após a tragédia de Brumadinho. A empresa suspendeu várias operações, responsáveis por quase 25% de sua meta original de produção de 2019, de 400 milhões de toneladas, reduzindo o nível de oferta de minério.

Analistas do Goldman Sachs disseram que a sentença favorável permitirá que a Vale adicione cerca de 20 milhões de toneladas à oferta global, o que deve elevar sua produção na Mina de Brucutu à capacidade original de 30 milhões de toneladas.

O anúncio de quarta-feira foi o terceiro da Vale sobre a possível retomada das operações em Brucutu. Embora tenha conseguido retomar produção equivalente a 10 milhões de toneladas de capacidade que utiliza beneficiamento de minério a seco, o restante das operações permanece parado. Gonçalves também destacou desafios que impedem a Vale de reativar a Samarco, joint venture da mineradora com a BHP, cujas operações estão suspensas desde o rompimento de uma barragem em Mariana, em 2015.

A reativação da Mina de Brucutu pode adicionar 10 milhões de toneladas à produção da Vale no segundo semestre do ano, disse Andrew Cosgrove, analista da Bloomberg Intelligence, por e-mail.

Embora o Ministério Público possa recorrer da decisão do STJ, a probabilidade de a sentença ser revertida "parece limitada neste momento", disseram analistas do Goldman em nota na quarta-feira. Ainda assim, os analistas acreditam que a Mina de Brucutu terá um impacto "marginal" na oferta global, já que a Vale mantém sua estimativa de vendas de minério de ferro entre 307 milhões e 322 milhões de toneladas.