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Setor de combustível fóssil acusado de lobby em debate climático

Luke Mcgrath

24/06/2019 13h22

(Bloomberg) -- Gigantes do setor de combustíveis fósseis, como a ExxonMobil e a Royal Dutch Shell, têm estado muito presentes nas discussões globais sobre as mudanças climáticas, focadas em enfraquecer o consenso científico e atrasar o progresso das políticas, segundo dados divulgados na última quarta-feira por uma organização de monitoramento ambiental.

O relatório do Climate Investigations Center (CIC) afirma que as associações de combustíveis fósseis enviaram mais de 6.400 representantes para negociações climáticas desde 1995, incluindo executivos das petroleiras Shell, BP e ExxonMobil.

A ExxonMobil não quis comentar. A Royal Dutch Shell e a BP não responderam aos pedidos de comentários.

As conclusões do CIC somam-se a um relatório de abril que acusou a Global Climate Coalition (GCC), um grupo financiado por empresas de combustíveis fósseis, de trabalhar para desacreditar o Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas da ONU e interferir no Protocolo de Kyoto. Embora a GCC tenha sido extinta em 2001, seus membros continuaram a participar de eventos representando diferentes organizações, segundo dados do CIC.

Ex-membros da GCC participaram de eventos representando organizações que incluem a Associação Internacional de Comércio de Emissões (IETA) e o Conselho Empresarial Mundial para o Desenvolvimento Sustentável (Wbscd). Desde 2002, os dois grupos se uniram para enviar 2.673 representantes às reuniões, segundo dados do CIC. A ExxonMobil, Shell e BP pertencem a pelo menos um dos grupos, segundo dados dos sites das associações. As empresas contribuíram coletivamente com 5,2% dos gases industriais globais de efeito de estufa de 1988 a 2015, de acordo com o Carbon Majors Database, do Carbon Disclosure Project (CDP). O Wbcsd não respondeu a um pedido de comentário.

"Embora a GCC não exista mais, sua influência ainda pode existir", disse Jesse Bragg, diretor de mídia da Corporate Accountability, uma organização ativista global. O novo relatório "liga os pontos e reforça o motivo pelo qual os governos precisam realmente observar a influência das associações de combustíveis fósseis a nível internacional", disse.

É evidente que a presença do setor de combustíveis fósseis é necessária em tais reuniões. Sem a sua cooperação, seria impossível implementar as mudanças em larga escala necessárias para combater as alterações climáticas. Mas há uma linha tênue entre participação e obstrução. Ativistas dizem que conseguir que organizações globais como a ONU reconsiderem a forma de participação de representantes do setor de combustíveis fósseis no processo tem sido difícil. "Além do fato de que não querem uma política, também não querem um registro deles falando sobre isso", disse Bragg. "Esse tem sido um dos principais obstáculos a serem abordados antes de tudo."