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Empresas dos EUA encontram brecha para burlar veto à Huawei

Ian King e Jenny Leonard

26/06/2019 11h42

(Bloomberg) -- Empresas de tecnologia dos Estados Unidos voltaram a vender certos produtos para a Huawei Technologies depois de concluir que há opções legais para trabalhar com a gigante chinesa das telecomunicações, apesar de sua inclusão em uma lista negra do governo Trump.

A Micron Technology, maior fabricante de chips de memória para computadores dos EUA, informou na terça-feira que começou a enviar alguns componentes para a Huawei depois que seus advogados estudaram as restrições às exportações. A Intel, maior fabricante de microprocessadores do país, também retomou as vendas para a Huawei, segundo uma pessoa a par do assunto. Não se sabe se outros fornecedores chegaram à mesma conclusão.

No mês passado, o Departamento de Comércio dos EUA incluiu a Huawei na chamada lista de entidades, medida que tem como objetivo proibir a empresa chinesa de comprar componentes e software americanos. A administração Trump disse que a Huawei ajuda Pequim em práticas de espionagem e representa uma ameaça à segurança do país - acusações negadas pela empresa. Autoridades do Departamento de Comércio e da Casa Branca não gostaram de saber que algumas empresas retomaram as exportações para a Huawei, segundo outra pessoa com conhecimento do assunto. A Casa Branca não respondeu imediatamente a um pedido de comentário.

As fabricantes de chips aproveitam algumas exceções às restrições para exportações. Mesmo quando as empresas têm sede nos EUA, elas podem, por meio de subsidiárias e operações no exterior, classificar sua tecnologia como estrangeira, segundo o analista Steven Fox, da Cross Research. Se menos de 25% da tecnologia de um chip tiver origem nos EUA, por exemplo, talvez não seja incluída na proibição, segundo as regras atuais.

"As empresas levaram semanas para descobrir isso", disse Fox. "O que fizeram foi analisar leis e regras e aplicá-las aos negócios."

A Micron tem operações em todo o mundo, algumas incorporadas por meio de aquisições, e possui fábricas em Cingapura, Japão e Taiwan. A Intel possui fábricas na China e na Irlanda e um importante centro de design e instalações de produção em Israel. A empresa não quis dar entrevista.

As empresas podem continuar a exportar alguns produtos legalmente para a Huawei sob uma regra chamada "de minimis", explicou Kevin Wolf, ex-chefe da seção de controle de exportação do Departamento de Comércio.

"As commodities produzidas no exterior a partir de tecnologia de origem americana estão sujeitas às proibições da lista de entidades apenas se a tecnologia e a commodity forem itens sensíveis controlados por razões de 'segurança nacional'", disse Wolf. "Mas uma commodity produzida no exterior a partir de uma tecnologia menos sensível originada nos EUA não está sujeita às proibições da lista de entidades."

O limite "de minimis" é de 25%, segundo o Departamento de Comércio.

Em teleconferência sobre o balanço da empresa, o presidente da Micron, Sanjay Mehrotra, não quis explicar sua análise sobre o assunto, apesar das repetidas perguntas. Em breve entrevista após a teleconferência, também não forneceu detalhes, apenas dizendo que espera que os EUA e a China resolvam rapidamente sua disputa comercial.

A Associação do Setor de Semicondutores (SIA, na sigla em inglês) divulgou um comunicado para apoiar o direito de seus associados de continuar trabalhando com um cliente importante: "As empresas da SIA estão comprometidas com o cumprimento rigoroso dos regulamentos de controle de exportação dos EUA. Como discutido com o governo dos EUA, agora está claro que alguns itens podem ser fornecidos à Huawei de acordo com a lista de entidades e regulamentos aplicáveis."

Repórteres da matéria original: Ian King em São Francisco, ianking@bloomberg.net;Jenny Leonard em Washington, jleonard67@bloomberg.net