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Promotores dos EUA entram em investigação sobre insider trading

Franz Wild, Aaron Kirchfeld e Alan Katz

26/06/2019 12h41

(Bloomberg) -- Promotores dos Estados Unidos investigam uma rede internacional de operadores suspeitos de se infiltrarem em bancos e empresas para coletar informações confidenciais sobre grandes negócios, segundo pessoas com conhecimento do assunto.

A investigação da Promotoria do Distrito Sul de Nova York tem como foco um grupo de "stock pickers" da Europa e do Oriente Médio que ganharam dezenas de milhões de dólares antes da divulgação de notícias sobre negociações de aquisições ou anúncios de fusões pelas empresas, segundo as pessoas, que pediram para não serem identificadas porque o assunto é confidencial. A investigação faz parte de uma operação multinacional iniciada há vários anos, que inclui promotores dos EUA, Reino Unido e França.

A primeira pista de que os EUA estavam envolvidos na operação surgiu novembro, quando autoridades da Sérvia prenderam um dos suspeitos, um trader de Genebra, com um mandado dos EUA sob a alegação de que ele teria cometido fraude com valores mobiliários. O operador foi extraditado para os EUA em maio, segundo Tatjana Pesic, porta-voz de um tribunal em Belgrado. Dawn Dearden, porta-voz do procurador de Manhattan Geoffrey Berman, não quis dar entrevista.

Os suspeitos parecem pertencer a um grupo de mais de uma dúzia de operadores espalhados por Londres, Paris, Genebra, Dubai e outras cidades. Os investigadores suspeitam que esses operadores subornavam assessores, executivos, advogados e funcionários do governo com dinheiro e presentes, disseram as pessoas. Essas possíveis fontes de informações confidenciais também estão sendo investigadas, disseram.

Os promotores dos EUA também investigam o uso da mídia pelos operadores, uma parte fundamental da estratégia, de acordo com pessoas a par da investigação. Ao passar dicas para agências de notícias financeiras, como a Bloomberg News, os operadores esperavam se beneficiar de uma alta nos preços das ações quando os repórteres corroboravam a dica e publicavam a notícia, disseram as pessoas.

A investigação do Departamento de Justiça está focada na conduta dos operadores como, por exemplo, a tentativa de usar veículos de mídia para seus propósitos. Os investigadores têm relutado em obrigar jornalistas a cooperar nas investigações por causa dos direitos garantidos pela Primeira Emenda à Constituição dos EUA, disseram as pessoas.

Os repórteres da Bloomberg News conversam com muitas pessoas ativas no mercado e recebem regularmente dicas de fontes conhecidas e anônimas. A política da organização de notícias é não publicar dicas sem confirmar as informações com pessoas que tenham conhecimento direto do assunto. A política da empresa também proíbe contar às fontes quando uma matéria será publicada.

Investigadores acreditam que os operadores conseguiram acobertar suas ações com a ajuda de empresas de fachada e instrumentos financeiros complexos, disseram as pessoas. Os traders se comunicavam por meio de aplicativos criptografados, como Telegram, Signal e WhatsApp, com telefones pré-pagos que trocavam regularmente ou usavam redes WiFi sem cartões Sim, disseram as pessoas.

Alguns operadores ficaram longe do esquema e evitaram negociar diretamente, optando por usar associados, gestores de patrimônio e corretores para comprar ações sem que documentos deixassem rastros que os levasse até eles, disseram as pessoas.

Como em qualquer investigação, o prazo e o resultado podem mudar e não há garantias de que o caso irá avançar, disseram as pessoas.

Os promotores dos EUA estão compartilhando informações com investigadores britânicos e franceses, disseram as pessoas. Eles conseguiram uma brecha quando um membro do grupo com um nível inferior começou a cooperar com as autoridades, segundo uma das pessoas. Uma porta-voz da Autoridade de Conduta Financeira do Reino Unido não quis comentar. Uma porta-voz do Parquet National Financier da França não respondeu a um pedido de comentário.

--Com a colaboração de Gaspard Sebag, Gordana Filipovic e Bob Van Voris.

Repórteres da matéria original: Franz Wild em Londres, fwild@bloomberg.net;Aaron Kirchfeld em Londres, akirchfeld@bloomberg.net;Alan Katz em Paris, akatz5@bloomberg.net