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Rússia e Arábia Saudita firmam pacto para "eternidade"

Javier Blas e Jack Farchy

03/07/2019 16h19

(Bloomberg) -- Era para ser uma aventura de seis meses, mas a Arábia Saudita e a Rússia se tornaram parceiros para a eternidade.

Complete com um poema e distintivos comemorativos, Moscou e Riad lideraram duas dúzias de países ao assinar uma carta para formalizar o grupo Opep+, que nos últimos dois anos e meio coordenou a oferta para sustentar o preço do petróleo.

O secretário-geral da Opep, Mohammad Barkindo, comparou o pacto a um "casamento católico", dizendo que duraria pela "eternidade".

"A carta pode acabar com as frequentes perguntas sobre se o relacionamento Rússia-Arábia Saudita foi feito para durar", disse Helima Croft, estrategista-chefe de commodities da RBC Capital Markets. "A carta é o anel no relacionamento."

Foi um momento que dificilmente seria imaginado há três anos, quando décadas de desconfiança envenenavam as relações entre os dois maiores exportadores de petróleo do mundo e os preços se arrastavam. No fim de 2016, diante do ceticismo de analistas e de autoridades de ambos os países, Khalid Al-Falih, da Arábia Saudita, e Alexander Novak, da Rússia, prometeram que os cortes de produção acertados durariam apenas seis meses.

Esta semana, o grupo concordou em estender os cortes pelo quarto ano, até março de 2020. Mas a assinatura da carta foi um momento-chave em um esforço diplomático saudita-russo muito mais amplo.

Foi o presidente russo Vladimir Putin quem primeiro telegrafou o resultado da reunião da Opep+, após conversas com o príncipe herdeiro saudita Mohammad bin Salman em Osaka, no sábado. E, quando Putin visitar a Arábia Saudita no fim do ano, Riad planeja convidar outros chefes de estado do grupo Opep+ para uma cerimônia de assinatura da carta.

Para a Arábia Saudita, transformar o que havia sido uma coalizão temporária em um grupo formal fornece uma proteção contra a futura turbulência no mercado de petróleo. O reino agora pode se apoiar em um grupo que representa quase metade da produção mundial.

Para a Rússia, a formalização do grupo ajuda a expandir a influência de Putin no Oriente Médio. O passo representa um golpe para o governo dos Estados Unidos, que já se manifestou contra a crescente influência da Rússia na região. "Estou muito confiante de que os esforços de Vladimir Putin irão fracassar", disse o secretário de Estado dos EUA, Mike Pompeo, quando perguntado no início deste ano se o presidente russo poderia usar a diplomacia do petróleo para suplantar os EUA no Oriente Médio.

--Com a colaboração de Julian Lee, Golnar Motevalli, Grant Smith, Nayla Razzouk, Dina Khrennikova, Salma El Wardany e Fred Pals.

Repórteres da matéria original: Javier Blas em Londres, jblas3@bloomberg.net;Jack Farchy em Londres, jfarchy@bloomberg.net