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Não é culpa sua que você come tanto açúcar: Bloomberg Opinion

Faye Flam

11/07/2019 15h02

(Bloomberg) -- Os norte-americanos tendem a associar seus problemas de saúde ao pecado. É difícil encontrar uma notícia sobre saúde na imprensa que não culpe a ganância e a falta de força de vontade por nossas epidemias contínuas de obesidade e diabetes, bem como um recente aumento no índice de doenças cardíacas. Mas os problemas derivam mais de uma indústria de alimentos gananciosa do que de qualquer fraqueza dos consumidores. Nossas prateleiras de supermercados estão cheias de itens produzidos com ingredientes baratos, especialmente açúcar e xarope de milho, quer as pessoas queiram ou não.

Um fascinante novo estudo do Monell Chemical Senses Center, em Filadélfia, mostrou que, entre 400 mil opiniões sobre alimentos na Amazon.com, a principal queixa era que os produtos eram muito doces. As pessoas usavam termos como "xaroposo, extremamente ou enjoativamente doce", disse a geneticista comportamental Danielle Reed, que coordenou a pesquisa. Ela e seus colegas usaram um programa de machine-learning para classificar as milhares de avaliações que abrangem 67.553 produtos.

A descoberta foi uma surpresa; Reed havia pensado o estudo para incorporá-lo à sua pesquisa sobre como as pessoas diferem em sua percepção sobre o amargor. Diferenças genéticas tornam algumas pessoas muito mais sensíveis a sabores amargos do que outras, e isso pode determinar se amamos ou odiamos verduras, como brócolis e couve. Reed se surpreendeu, segundo ela, com o fato de que, nas resenhas da Amazon, os consumidores raramente se queixavam de amargor ou salinidade. As pessoas se queixavam do sabor muito doce. Os fabricantes podem pensar que estão adocicando as coisas para adequar-se a um gosto comum. Nesse caso, estão errando. Mas o mercado está cheio de alimentos superdoces, de modo que as empresas geralmente não perdem clientes para concorrentes que ofereçam melhores sabores.

Ou o problema pode ser que os fabricantes estão tentando usar os ingredientes mais baratos possíveis de uma forma que os consumidores ainda possam tolerar. O açúcar é barato e o xarope de milho, muito mais. Em seu livro "The Omnivore's Dilemma (o dilema do onívoro)", o autor Michael Pollan conta como a introdução do xarope de milho no final do século 20 induziu fabricantes a acrescentar o ingrediente na maior quantidade possível em muitos alimentos processados e atrair consumidores com refrigerantes gigantes e outros produtos com quantidades exageradas que pareciam pechinchas, mas vinham com custos escondidos. Posteriormente, o dogma médico de que a gordura era fatal também levou a uma explosão de produtos extremamente doces, mas com baixo teor de gordura.

No entanto, chegando aqui, está claro que calorias vazias estão contribuindo para epidemias de obesidade nos Estados Unidos e em outros lugares. A política de alimentação deve repensar a repreensão de consumidores e voltar sua atenção para os verdadeiros culpados: os que servem os alimentos.

Esta coluna não reflete necessariamente a opinião do conselho editorial ou da Bloomberg LP e seus proprietários.