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Ações da Via Varejo premiam fundos que aproveitaram saída do GPA

Vinícius Andrade e Felipe Marques

24/07/2019 07h00

(Bloomberg) -- O grupo varejista francês Casino passou a última década tentando fazer dar certo sua aposta na Via Varejo, dona das marcas Casas Bahia e Ponto Frio. Agora que finalmente desistiu, os investidores que assumiram a empreitada estão sendo recompensados.

As ações da Via Varejo subiram 40% desde 14 de junho, quando um grupo de gestores de fundos de investimento se associou à família Klein para comprar em leilão a participação de 36% que a Cia. Brasileira de Distribuição, conhecida como GPA e subsidiária brasileira do Casino, detinha na Via Varejo. É a ação brasileira com melhor desempenho no período, impulsionada pelo entusiasmo com as mudanças na administração conduzidas pelos novos donos.

"Quando aconteceu o leilão, você tinha uma ação barata, um ativo com receita grande e uma história de um possível turnaround", disse William Leite, chefe da mesa de ações da Garde Asset Management, que comprou uma participação na Via Varejo na leilão. "Olhando tudo junto, parecia muito bom".

Liderando as mudanças na Via Varejo está a família Klein, que tem uma longa história com a empresa. Na década de 1950, o imigrante polonês Samuel Klein fundou a rede de lojas Casas Bahia, que foi incorporada pela Via Varejo em 2009. Uma série de disputas entre o Casino e os Klein se seguiu, com a família perdendo espaço na Via Varejo. Porém, com a recente saída do Casino, os Klein acabaram virando os maiores acionistas da Via Varejo. Em seguida, nomearam Michael Klein, filho de Samuel, como presidente do conselho da empresa, e Roberto Fulcherberguer, o novo diretor-presidente da empresa.

Sob a nova administração, a empresa atraiu executivos de rivais, incluindo uma nova diretora de marketing vinda da Magazine Luiza, Ilca Sierra, e um diretor digital que foi do Mercado Livre, Helisson Lemos.

"O conjunto da obra -- as pessoas que estão assumindo, o reposicionamento da empresa -- chama atenção", disse Andre Lion, sócio e gestor da Ibiuna Investimentos, que também adquiriu as ações da Via Varejo no leilão. "A perspectiva de melhora operacional está por trás da nossa tese de investimentos."

A virada, porém, está longe de ser garantida. A Via Varejo registrou um prejuízo líquido de R$ 49 milhões no primeiro trimestre, após uma perda de R$ 267 milhões em 2018. E, enquanto a sua receita líquida de R$ 26,9 bilhões no ano passado é quase o dobro dos R$ 15,6 bilhões da rival Magazine Luiza, seu valor representa menos de um quarto.

"Nós reunimos a melhor equipe do varejo brasileiro", disse Fulcherberguer em comunicado enviado por e-mail. "Com essa liderança, vamos transformar as operações da companhia e ampliar a liderança da Via Varejo no setor."

A Via Varejo tem sido criticada por analistas por ter perdido terreno para os concorrentes no comércio eletrônico, enquanto a pior recessão da história do Brasil derrubou seus resultados. Um porta-voz do Casino não quis comentar.

Ainda não está claro como a nova administração lidará com investimentos em tecnologia, marketing e reformas nas lojas, disseram analistas do Banco Bradesco BBI, liderados por Richard Cathcart em um relatório no início deste mês.

Mesmo os gestores dispostos a apoiar os planos dos Klein estão se preparando para um longo caminho pela frente, apesar dos bons retornos recentes.

"As coisas demoram bastante tempo", disse João Braga, co-responsável por ações na XP Asset Management, em sua conta no Twitter em 3 de julho. "Ninguém deve estar em um case de turnaround para ganhar dinheiro no curto prazo." Braga, cujo fundo XP Long Biased superou 99% dos seus pares nos últimos três anos, também comprou ações no leilão do GPA.

"O dinheiro fácil já foi", disse Leite, da Garde. "A partir de agora, os executivos precisam entregar o turnaround para a ação continuar subindo, o que nós acreditamos que eles farão."

--Com a colaboração de Fabiola Moura e Albertina Torsoli.