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Investidores reduzem exposição à Argentina antes de primárias

Sydney Maki

09/08/2019 09h15

(Bloomberg) -- Investidores reduzem a exposição à Argentina antes das eleições primárias neste fim de semana, que preparam o terreno para a eleição presidencial de outubro. Os resultados têm potencial de impulsionar ou derrubar os mercados.

A Aberdeen Standard Investments recentemente reduziu seu investimento para dívida em moeda local, enquanto o Credit Suisse recomendou que investidores cortem suas posições antes das primárias de domingo. O JPMorgan Asset Management diz que até o rentável "carry trade" -- operações no mercado de câmbio que jogam com a diferença de juros entre os países -- já não é tão atraente, pois os retornos de longo prazo podem se evaporar dependendo do resultado da votação.

Como as pesquisas de opinião se mostraram particularmente não confiáveis este ano, as primárias podem ser o indicador mais preciso da corrida presidencial. O principal risco para investidores seria um resultado que mostraria o candidato da oposição Alberto Fernández e sua vice na chapa, a ex-presidente Cristina Kirchner, com muito mais apoio do que a coalizão do presidente Mauricio Macri. O resultado seria visto como um sinal de que o país poderia retomar políticas como controles monetários e de capital, afastando-se das medidas mais pró-mercado de Macri.

"A reação dos ativos com qualquer resultado será muito grande, então temos uma cauda negativa muito grande ou uma cauda muito positiva caso o governo assuma a liderança", disse Diana Amoa, que ajuda a administrar US$ 2,1 bilhões no JPMorgan Asset Management. "Investir nisso seria como um sorteio."

Amoa diz que sua recomendação para a Argentina permanecerá neutra até a eleição de domingo. O risco é muito grande para o peso argentino, que acumula a segunda maior queda este ano entre as mais de 140 moedas monitoradas pela Bloomberg.

A Aberdeen recuou de uma posição overweight para dívida em moeda local da Argentina no mês passado, antecipando "um período de volatilidade prolongada", disse Edwin Gutierrez, chefe de dívida soberana de mercados emergentes, em entrevista.

Gutierrez não está sozinho. Cerca de US$ 6,2 bilhões foram sacados da Argentina no segundo trimestre diante da expectativa dos investidores locais em relação às eleições, segundo Martin Castellano, chefe de pesquisa para América Latina do Instituto de Finanças Internacionais, em Washington.

"Poderíamos ver mais saídas antes das eleições", disse. "Poderia chegar a US$ 22 bilhões para o ano todo, o que é muito alto, mesmo em um ano eleitoral."

O primeiro turno das eleições está marcado para 27 de outubro, seguido por um possível segundo turno entre os dois primeiros candidatos em 24 de novembro.

Luiz Ribeiro, principal gestor de portfólio de renda variável para América Latina da DWS, é mais otimista. Seu fundo de ações regional superou 94% de seus pares nos últimos 12 meses, quando acumulou participações na Argentina, onde acredita que os valuations podem ser atraentes.

Em entrevista, Ribeiro disse que a gestora tem uma visão positiva sobre o resultado, especialmente porque a inflação continua desacelerando e a economia tem se recuperado. Ele diz que o fundo da DWS tem cerca de 12% de seus ativos na Argentina, uma posição overweight em relação ao benchmark. Suas principais apostas no país são bancos, ações de concessionárias e energia, bem como algumas empresas de consumo.

--Com a colaboração de Aline Oyamada, Karina Montoya e Ben Bartenstein.

Para contatar a editora responsável por esta notícia: Daniela Milanese, dmilanese@bloomberg.net