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Obsessão dos EUA por carne bovina afeta indústria do couro

Lydia Mulvany e Denitsa Tsekova

09/08/2019 15h47

(Bloomberg) -- Consumidores nos Estados Unidos estão comendo mais carne bovina, no maior volume em uma década. Mas um subproduto desse desejo carnívoro tem se acumulado e é como se dissesse: ninguém me ama, ninguém me quer. Consumidores que antes cobiçavam jaquetas de couro e sapatos, agora preferem alternativas sintéticas mais baratas, refletindo uma crescente ambivalência em relação a esse antigo produto básico dos armários nos EUA.

O excesso de couro bovino fez com que os preços despencassem, tornando muitos inúteis. E, assim como o amor dos norte-americanos pela carne se espalhou pelo mundo, o mesmo aconteceu com o abandono do couro, das roupas aos assentos de carros. O couro começa a ir para os aterros, enquanto os processadores de couro de menor porte estão fechando as portas.

Há apenas cinco anos, os preços disparavam depois que uma seca encolheu o rebanho norte-americano para o menor nível em seis décadas. O preço do couro foi às alturas, obrigando designers de calçados e roupas a eliminar o material de seus produtos. Combine isso com a ascensão do chamado athleisure, um estilo despojado, e a crescente popularidade das roupas "veganas" e é possível entender por que a demanda não voltou.O couro do gado, um subproduto obrigatório do consumo de carne e laticínios, vai existir enquanto os norte-americanos gostarem de hambúrgueres, bifes e sorvetes. E, embora os laticínios tenham sido pressionados pela queda na demanda por leite e pelas alternativas aos produtos lácteos, a ascensão dos substitutos da carne ainda não afetou a demanda pelo produto real.

Com pilhas de 45 quilos de couro de vaca que se acumulam em todo o país, não utilizadas e não vendidas, os fabricantes de couro alertam para um desastre comercial iminente. O couro representa frequentemente 50% do valor dos subprodutos do animal, e os subprodutos podem responder por 10% do valor de um boi ou mais. O preço do couro de vaca, de qualidade inferior ao do boi, caiu para apenas 5% do valor de todos os subprodutos - vale menos do que as línguas e a carne da bochecha. Não representa nem 1% do valor de uma vaca viva.

"Há couro sem valor", disse Joe Brannan, gerente de vendas de exportação da Twin City Hide, um processador com sede em South St. Paul, Minnesota. "Estamos jogando um produto natural no lixo."