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Traders enfrentam desafio de precificar ativos da Argentina

Aline Oyamada

14/08/2019 12h35

(Bloomberg) -- A derrota sofrida pelo presidente Mauricio Macri nas eleições primárias no fim de semana ainda repercute nos mercados argentinos: analistas e operadores tentam recalcular o valor justo dos ativos do país sob uma perspectiva política drasticamente diferente.

Bancos como Morgan Stanley, Bank of America Merrill Lynch e Wells Fargo dizem que investidores continuarão liquidando posições em peso na esteira das primárias, que sinalizaram o fim do governo Macri e de suas políticas pró-mercado. Analistas dizem que o banco central argentino não tem munição - ou vontade política - para controlar a desvalorização do peso, o que provavelmente deve levar a inflação para um nível ainda maior do que os atuais 50%. Esse movimento provavelmente deve frear o crescimento de uma economia frágil, e fazer com que a moeda caia ainda mais, para cerca de 70 por dólar.

"A estabilidade financeira continua sendo um risco no curto prazo", escreveu Daniel Chodos, estrategista do Credit Suisse em Buenos Aires, em relatório. "Acreditamos que os títulos e a taxa de câmbio possam se desvalorizar mais antes de se recuperar no curto prazo."

Os investidores fogem dos ativos argentinos depois que o candidato da oposição Alberto Fernández venceu com folga as eleições primárias de domingo, o que aumentou os temores de outro default da dívida soberana. A principal preocupação é que, uma vez no poder, Fernández implementaria políticas intervencionistas e controle cambial, medidas adotadas por sua vice na chapa, a ex-presidente Cristina Kirchner. A liderança de Fernández nas primárias de domingo, vista como uma prévia das eleições presidenciais em 27 de outubro, assustou os mercados. Alguns analistas dizem que a diferença é muito ampla para ser superada.

Os títulos offshore do país atingiram novas mínimas todos os dias desde as primárias. O custo de entrada (upfront) para proteger a dívida argentina por cinco anos com contratos de credit-default swaps (CDS) saltou para 50%, segundo dados da CMA. O contrato embute uma probabilidade de default de cerca de 84%.

O peso, por sua vez, acumula queda de 23% desde sexta-feira, elevando a desvalorização em 2019 para 36% - de longe o pior desempenho entre as principais moedas acompanhadas pela Bloomberg.

E há sinais de que a queda do peso está apenas começando. Os traders ainda precisam liquidar a maior parte de suas posições em pesos e não têm nenhum nível técnico para seguir além das projeções de Fibonacci. O volume de negociação de pesos no mercado à vista na segunda-feira foi de apenas US$ 550 milhões, 37% menor do que na sexta-feira, segundo corretores locais. Na terça-feira, o volume foi um pouco maior, de US$ 616,5 milhões.

Kathryn Rooney Vera, chefe de pesquisa da Bulltick, disse que a onda vendedora foi exagerada, porque não só assume uma vitória de Fernández no primeiro turno, como também um risco de default da dívida soberana quase iminente.

Mas não há muito o que o banco central possa fazer enquanto os investidores estiverem precificando o risco de default, apesar de qualquer possível intervenção, de acordo com estrategistas de bancos como Barclays e Amherst Pierpont Securities. O BofA diz que oferecer dólares para sustentar o peso pode prejudicar os títulos da dívida externa do país, porque as reservas começariam a cair.

"Não acho que eles possam defender nenhum nível", disse Juan Prada, estrategista de câmbio do Barclays, em Nova York. "Eles interviriam apenas para oferecer liquidez quando necessário, o que provavelmente impedirá intervenções mais ousadas por enquanto. O novo valor justo é definitivamente menor, então a moeda precisará se desvalorizar para refletir melhor a nova realidade política."

--Com a colaboração de Davison Santana e Carolina Millan.

Para contatar a editora responsável por esta notícia: Daniela Milanese, dmilanese@bloomberg.net