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Investidores buscam pistas com líderes de esquerda na Argentina

Ben Bartenstein e Sydney Maki

27/08/2019 13h02

(Bloomberg) -- Assim que o veterano de hedge fund Hans Humes soube do surpreendente resultado das eleições primárias da Argentina em 11 de agosto, ele começou a pesquisar passagens aéreas na Internet.

Humes está entre as dezenas de investidores que correram para Buenos Aires para reuniões com líderes de esquerda, agora com grandes chances de governar o país. Alguns deles estão desesperados para recuperar investimentos, enquanto outros farejam oportunidades depois da onda vendedora.

Desde as primárias, gestoras de recursos como BlackRock, Pacific Investment Management, Goldman Sachs, entre outras, têm se reunido com assessores do candidato da oposição Alberto Fernández ou conversado com eles por telefone. A mensagem de pelo menos um desses assessores de campanha, Emmanuel Álvarez Agis, ex-vice-ministro da Economia do governo de Cristina Kirchner, foi surpreendentemente animadora.

Humes disse que o assessor deu a entender que a campanha sabe o caminho para garantir a vitória nas eleições "sem assustar os mercados". Até simpatizantes do presidente Mauricio Macri "falaram muito bem dele", disse Humes, presidente da Greylock Capital, em Nova York.

Os investidores precisam de muita tranquilidade. Após a vitória esmagadora de Fernández, o peso se desvalorizou para um recorde de baixa, o mercado acionário sofreu a segunda maior queda em 70 anos e os contratos de credit-default swaps embutiram uma probabilidade de default acima de 75% em cinco anos.

Embora Fernández tenha adotado um tom mais moderado, muitos investidores continuam cautelosos com o fato de Cristina Kirchner ser vice na chapa, de seu ex-ministro da Economia, Axel Kicillof, liderar a disputa para governador da província mais importante do país e de a lista de parlamentares da oposição estar cheia de membros do La Campora, um grupo de esquerda mais radical.

Apesar de todo o charme do assessor Álvarez Agis, ele foi membro de um governo que estabeleceu controles de capital e não pagou dívidas como parte de um impasse com credores.

Mas, agora, como alguém que poderia ser um membro importante da equipe econômica até o fim do ano, Álvarez Agis está dizendo aos investidores o que eles querem ouvir. Como a necessidade de manter o acesso ao mercado, a disciplina fiscal e atrair investimentos, sem deixar de pagar as obrigações com investidores de títulos ou credores multilaterais como o Fundo Monetário Internacional, que concedeu um empréstimo recorde de US$ 56 bilhões à Argentina no ano passado.

Representantes da BlackRock, Pimco e Goldman não quiseram dar entrevista.

--Com a colaboração de Ignacio Olivera Doll e Carolina Millan.

Para contatar a editora responsável por esta notícia: Daniela Milanese, dmilanese@bloomberg.net

Repórteres da matéria original: Ben Bartenstein em Lima, bbartenstei3@bloomberg.net;Sydney Maki em N York, smaki8@bloomberg.net