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Projeto da Califórnia poderia reduzir incêndios na Amazônia

Eric Roston

28/08/2019 15h22

(Bloomberg) -- Agricultores brasileiros, sob suspeita de terem iniciado milhares de focos de queimada na Amazônia, podem ter a chance de serem remunerados para preservar árvores em vez de derrubá-las - com dinheiro da Califórnia.

Uma votação programada para setembro do Conselho de Recursos Aéreos da Califórnia (CARB) pode aprovar diretrizes para governos nacionais ou locais em países tropicais que desejam criar mercados de créditos de emissão de CO2 gerados pela proteção de florestas. Os créditos são chamados de "compensações" e podem ser vendidos para empresas como uma maneira de contrabalançar uma parte das emissões de gases de efeito estufa por meio de pagamentos, em vez da redução da poluição em si. A iniciativa regulatória da Califórnia começou a ser elaborada há mais de uma década. Medidas inovadoras anteriores da poderosa agência estatal em 1966 estabeleceram os primeiros padrões de emissões no tubo de escapamento e, no mês passado, o estado fechou um acordo ambiental com as principais montadoras.

Se aprovado, o California Tropical Forest Standard criaria um conjunto de melhores práticas para manter as florestas intactas e eliminar CO2 da atmosfera. Os governos tropicais que adotam os padrões de proteção florestal do CARB, que incluem parcerias com grupos indígenas e verificação independente, poderiam se associar aos mercados de limites e comércio que subscrevem o padrão da Califórnia.

A posição econômica e a sofisticação da Califórnia em política climática "fazem parte da solução para a atual crise de incêndios" no Brasil, disse Daniel Nepstad, diretor executivo e cientista sênior do Earth Innovation Institute, uma organização sem fins lucrativos de pesquisa focada no desenvolvimento tropical sustentável.

O problema é que grande parte da Amazônia atualmente vale mais morta do que viva. Existem mercados para carne bovina, soja e vários outros produtos brasileiros. Esses mercados são tão atraentes que existem muitos incentivos para derrubar árvores. Não há mercado equivalente para manter as árvores em pé.

A Amazônia é a maior floresta tropical do mundo, responsável por extrair enormes quantidades de dióxido de carbono do ar. O desmatamento não remove apenas as árvores do ecossistema - a terra desmatada é usada na agricultura, o que aumenta ainda mais as emissões de CO2. Thomas Lovejoy, professor da Universidade George Mason, alertou recentemente que a Amazônia está se aproximando de um "ponto de inflexão ecológico", após o qual os ciclos da água e teia de vida da floresta tropical não poderão mais se sustentar.