Logo Pagbenk Seu dinheiro rende mais
Topo

Boom de GNL chega ao Brasil com importação privada

Sabrina Valle

09/09/2019 08h57

(Bloomberg) -- O Brasil já não está à margem da expansão global do mercado de gás natural.

O país deve mais que dobrar o número de instalações que podem processar gás líquido para entrega às usinas elétricas. Investidores estrangeiros, como a britânica BP e a firma de investimento americana Stonepeak Infrastructure Partners, têm financiado projetos para importar gás natural liquefeito, enquanto o Brasil abre seus mercados de energia à concorrência, encerrando o monopólio de fato de décadas da Petrobras.

O aumento da capacidade de importação marca uma mudança para o Brasil, cujo peso no crescente comércio de GNL não tem sido relevante. A maioria das usinas do país é alimentada por barragens hidrelétricas, e o gás produzido no pré-sal ajudou a atender às necessidades domésticas. Mas o GNL está mais barato do que nunca em meio a um superávit global, aumentando o apelo do combustível para o Brasil enquanto o governo Jair Bolsonaro procura atrair investimento estrangeiro para o setor e cortar custos para consumidores.

"O GNL está tão barato que agora está cheio de navio no Oceano Atlântico procurando cliente", disse Cesário Cecchi, diretor da Agência Nacional de Petróleo, em entrevista.

Carregamentos de GNL dos EUA por país de importação

(2016-2019)

A Petrobras opera três terminais flutuantes de importação de GNL na costa brasileira. Outros quatro estão em construção, e todos são financiados por investidores estrangeiros.

Com sede em Bermuda, a Golar LNG está contratando uma embarcação no norte do Brasil que fornecerá gás para uma nova usina com expectativa de entrar em operação em janeiro, um projeto também financiado pela Stonepeak. A Golar quer construir outros dois terminais flutuantes de GNL no país. A Gás Natural Açu, uma joint venture entre a Prumo Logística, BP e Siemens, planeja um projeto de importação com início previsto em março.

Parte das mudanças propostas é anterior ao governo Bolsonaro e os projetos coincidem com um momento de profunda transformação do setor de gás brasileiro. O Brasil trabalha há anos para modernizar o mercado, e o plano Novo Mercado do Gás visa promover a concorrência, aumentar o uso do combustível na geração de energia e otimizar a regulamentação.

"Os dias de monopólio terminaram, e o Brasil verá os preços do gás natural caírem à medida que o que chamamos de 'spread do monopólio' desaparecer", afirmou Carlos Langoni, economista da Fundação Getulio Vargas, no Rio de Janeiro.

Mas as ambições do Brasil no mercado de GNL enfrentam vários obstáculos. A Petrobras ainda controla virtualmente a produção, transporte e importação de gás no país, embora recentemente tenha vendido a maioria de seus gasodutos para empresas como Engie e Brookfield Asset Management. O GNL disputa o mercado com a produção da região do pré-sal e entregas via gasoduto da vizinha Bolívia.

Uma grande mudança é esperada no fim do ano, quando o governo permitirá que empresas privadas transportem gás pelos gasodutos do país. A quantidade de gás que o Brasil importa pelo gasoduto da Bolívia será reduzida quando um contrato plurianual vencer em dezembro, abrindo as portas para mais entregas de GNL.

Os preços mais baixos já aumentam a demanda doméstica pelo combustível, com carregamentos dos EUA à Austrália inundando o mercado global. A Petrobras aumentou as importações de GNL em 70% no segundo trimestre em relação ao ano anterior, disse Anelise Lara, diretora-executiva de refino e gás natural da estatal, em coletiva de imprensa no Rio de Janeiro. A empresa diz que pode importar ainda mais se os preços permanecerem baixos.

"De todas as mudanças ocorrendo no setor petrolífero brasileiro, a do gás natural é a mais evidente", disse Marcio Felix, ex-secretário executivo do Ministério de Minas e Energia, antes de sua renúncia em 2 de setembro. "O mercado vai ser transformado de maneiras que ainda nem conseguimos enxergar."

--Com a colaboração de Kevin Varley.

Para contatar a editora responsável por esta notícia: Daniela Milanese, dmilanese@bloomberg.net