Para Shiller, chance de recessão nos EUA em 2020 é menor que 50%
(Bloomberg) -- Os mercados em Wall Street enviam mensagens contraditórias este ano: investidores de títulos de dívida e a guerra comercial contam uma história de desaceleração econômica, enquanto traders de ações recitam contos otimistas sobre o mundo corporativo dos Estados Unidos.
Talvez todos devêssemos ler o Twitter.
Para o Prêmio Nobel Robert Shiller, as ideias que se tornam virais são mais importantes do que imaginamos para prever o rumo da economia -- tanto quanto números de crescimento e preços de ativos.
Em seu livro mais recente, "Narrative Economics", o economista de 73 anos, famoso por sua análise sobre bolhas de ativos, argumenta que as histórias podem se transformar em profecias autorrealizáveis com o tipo de potência que a economia mainstream geralmente ignora.
Com ventos contrários afetando o crescimento econômico internacional enquanto a maioria dos indicadores mostra que a economia dos EUA ainda está saudável, é uma teoria cuja hora pode ter chegado.
A boa notícia é que as chances de uma recessão em 2020 são inferiores a 50%, disse Shiller em entrevista à Bloomberg News no Ned Hotel, em Londres.
Em entrevista, Shiller disse que torce para que Joe Biden seja o candidato presidencial do Partido Democrata e eventual vencedor nas eleições dos EUA no ano que vem, embora confesse que aceitará qualquer candidato para derrotar Donald Trump.
As ideias de esquerda de Bernie Sanders e Elizabeth Warren, como aumentar impostos sobre os ricos, dificultam a conquista de votos a nível nacional e afetariam o mercado acionário, alertou.
A seguir, trechos da entrevista:
Por que ações e títulos estão perto de nível recorde?
Minha visão do mundo é conduzida por múltiplas narrativas. Por que alguém ofereceria mais pelo preço dos títulos e não ofereceria menos pelo preço das ações? Os preços são definidos pelas pessoas que negociam e, portanto, podemos obter contradições nos dados.
Os rendimentos dos títulos, próximos a recordes de baixa ou até negativos, têm algo a ver com o medo de outros investimentos. Também têm a ver com a narrativa de estagnação secular ou com a narrativa de recessão.
Quais narrativas são populares hoje em dia?
Existe essa narrativa de estagnação secular ou uma narrativa do Japão agora se expandindo para o mundo, que parece superficialmente plausível. Quase ninguém previu que o atual regime de baixas taxas de juros ainda estaria em vigor em 2019, então, me pergunte novamente em 10 anos e talvez eu tenha um modelo de previsão.
O que poderia fazer a volatilidade aumentar novamente?
Pode ser o retorno de uma narrativa que inspira o medo, como aconteceu em 2008. A volatilidade disparou. Houve um retorno da narrativa da Grande Depressão. Em setembro de 2008, tivemos a falência do Lehman e a aquisição do Washington Mutual, e depois a conversa mudou para: estamos novamente em 1929?
Aquilo trouxe de volta histórias de medo, mas agora essas histórias não são tão importantes. As pessoas não estão tão preocupadas com o mercado acionário. Estão interessadas em outras coisas, como Donald Trump ou Boris Johnson.
A próxima recessão nos EUA será grande ou moderada?
A resposta natural é que não será tão ruim quanto a de 2008. Porque essa foi a pior recessão! A questão é o que tornaria isso ruim. Seria algum tipo de narrativa assustadora que volta com uma nova força, como uma narrativa da Grande Depressão, ou mesmo a narrativa de 2008.
Nos EUA, a confiança se manteve em alta. Não está subindo rapidamente, mas ainda está em alta para que as pessoas não tenham medo. E isso significa que muitas pessoas simplesmente não estão prestando atenção ao seu portfólio de ações.
Existe uma bolha em investimentos passivos?
O investimento passivo pode permitir que as bolhas se tornem mais fortes. Por outro lado, ainda temos muitos investidores ativos e não sei se estou particularmente alarmado. É verdade que a atenção mudou de ações individuais para índices. Os ETFs smart-beta são uma tentativa de corrigir isso.
Trump vai concluir um acordo comercial antes das eleições?
Trump respeita muito sua própria intuição e não escuta nenhuma autoridade em particular. Então, penso que se tornará ainda mais feroz à medida que seus índices de aprovação diminuírem.
Quem é seu candidato preferido para 2020?
Tenho preferência por Biden, porque acho que tem as melhores chances de ganhar. Eu apoiaria qualquer um em vez de Donald Trump.
A força de Bernie Sanders na última eleição é surpreendente, porque ele se diz socialista e essa é uma palavra ruim, obscena e suja nos EUA. Acho que Bernie Sanders não vai ganhar. Elizabeth Warren é uma mulher inteligente, mas é um pouco de esquerda para ser eleita nos EUA. Seria uma vitória-surpresa.
Como uma vitória de Warren ou Sanders afetaria as ações?
O problema de Sanders e Warren é que querem tributar investidores ricos. Isso afetaria o mercado. Ao mesmo tempo, o mercado nem sempre é lógico.
Para contatar a editora responsável por esta notícia: Daniela Milanese, dmilanese@bloomberg.net
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