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BTG Digital traz de volta ambição de ser 'better than Goldman'

Felipe Marques e Cristiane Lucchesi

16/09/2019 07h03

(Bloomberg) -- André Esteves brincou certa vez que o Banco BTG Pactual SA, a potência latino-americana no negócio de banco de investimento que ele ajudou a criar, um dia se tornaria "melhor do que o Goldman" ("better than Goldman") - uma piadinha com o nome do banco.

Agora o BTG está se espelhando no Goldman Sachs Group Inc de novo, procurando construir um banco de varejo digital para as massas.

O banco, sob a marca BTG Digital, oferecerá cartões de crédito e débito, contas correntes e empréstimos a pessoas físicas até meados do próximo ano, aumentando a plataforma de investimentos hoje mais focada em clientes de alta renda, disse o presidente Roberto Sallouti em entrevista na sede do banco em São Paulo. O plano continua firme mesmo após nova rodada de investigações policiais atingirem o banco em agosto.

"Ser um retardatário neste caso é um benefício", disse Sallouti, acrescentando que não ter agências ou tecnologia antiga permite que o BTG ofereça novos produtos e melhores serviços. Seu objetivo de cinco anos é ganhar uma participação de 10% no total de investimentos financeiros de clientes de varejo e private banking, que totalizaram R$ 2,8 trilhões (US$ 690 bilhões) no ano passado.

O banco on-line do Goldman, chamado Marcus, oferece empréstimos pessoais e contas de poupança com taxas de juros mais atrativas do que a média dos concorrentes. Ambos os bancos prometem aos clientes que eles serão capazes de economizar dinheiro com tarifas com sua nova forma de atuar que desafia o sistema financeiro tradicional.

"A classe média brasileira agora tem acesso aos mesmos produtos que os milionários têm e pelos mesmos preços", diz Sallouti.

O BTG e o Goldman aprenderam os benefícios do banco de varejo, que diversifica fontes de receita e de captação. Essa foi uma das conclusões da crise financeira de 2008 para o Goldman, com sede em Nova York.

Para o BTG, a lição veio depois, na crise de 2015, quando Esteves, 51 anos, foi preso em uma investigação da Lava Jato, provocando saques de grandes clientes. Esteves foi absolvido de todas as acusações após os procuradores concluírem que "não havia provas suficientes" contra ele.

Agora em agosto a polícia voltou a revistar a sede do banco e a casa de Esteves, o que derrubou as ações do BTG e levou o banco a reagir rapidamente para tranquilizar os investidores de que o pânico não era justificado. Mesmo depois de cair mais de 20% em relação ao seu pico, as ações do BTG mais que dobraram este ano e são o segundo melhor desempenho do Ibovespa.

O BTG Digital já ajudou os depósitos de varejo a saltarem de 3% para quase 17% do total, trazendo uma "mudança brutal na qualidade de nosso financiamento", disse Sallouti. Mais uma vez, há um paralelo com o Goldman Sachs, que afirmou aumentar os depósitos de pessoas físicas em mais de US$ 10 bilhões por ano com o Marcus.

O BTG iniciou sua iniciativa digital em 2016 com um produto semelhante ao da XP Investimentos SA, que oferecia aos clientes da classe média depósitos, títulos e ações cobrando menos taxas. Embora o BTG não divulgue esses detalhes, os analistas do Santander Henrique Navarro e Olavo Arthuzo estimaram, em 21 de agosto, que a unidade digital terá R$ 150 bilhões em ativos sob custódia em três a cinco anos, avaliando o negócio em torno de R$ 18,7 bilhões.

Sallouti estima que a plataforma digital comecerá a dar lucros em meados de 2020. Juntamente com todos os produtos de banco de varejo, o impulso digital inclui um novo negócio de empréstimos para pequenas e médias empresas, uma empresa de análise de dados, uma plataforma de seguros e o Banco Pan SA, um banco no qual o BTG tem uma participação e que atende a indivíduos de mais baixa renda.

As empresas de tecnologia financeira se multiplicam no Brasil, atraindo dinheiro de investidores como o bilionário Warren Buffett, o SoftBank e o próprio Goldman. Os recém-chegados esperam desafiar o domínio dos cinco principais bancos do Brasil, que detêm 85% do total de ativos em comparação com 43% nos EUA. Liderando o grupo estão o Nubank, com investimento do Tencent, um banco digital avaliado em US$ 10 bilhões com mais de 10 milhões de clientes, a StoneCo e a XP Investimentos.

"Estamos seguindo um caminho que eu nunca pensei ser possível para o BTG, falando com um cliente que estava fora de nosso alcance", disse Sallouti.

Outro sinal de mudança? Uma recente apresentação para investidores globais do BTG incluiu não apenas os dados usuais, como o retorno sobre o capital, mas também um gráfico sobre o número crescente de seguidores do Instagram e do YouTube do banco.