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Com turbulências, soja brasileira tem menor expansão desde 2006

Tatiana Freitas

03/10/2019 15h42

(Bloomberg) -- Os produtores de soja no Brasil enfrentam um dilema.

Por um lado, os agricultores têm boas razões para acelerar o plantio, já que a China deu as costas às oleaginosas cultivadas nos Estados Unidos. Por outro, guerras comerciais não duram para sempre, e a propagação da peste suína africana na Ásia reduz a demanda por alimentos. As oscilações climáticas e cambiais oferecem outras variáveis.

Com isso, a área plantada deve mostrar um modesto aumento de 1,8% em relação à temporada anterior, segundo a estimativa média de 10 analistas consultados pela Bloomberg. Seria o ritmo de expansão mais lento em 13 anos, abaixo da média de 3,5% nos últimos cinco anos, e da taxa anual de 5% nas últimas 10 temporadas.

Ainda assim, um crescimento modesto será suficiente para o Brasil superar os EUA como o maior produtor mundial de soja e se consolide como maior exportador. O país pode colher 123 milhões de toneladas na temporada 2019-2020, segundo estimativas baseadas em uma média histórica para a produtividade. A primeira estimativa da Conab para a safra 2019-2020 será divulgada em 10 de outubro.

"Os custos estão altos, então os produtores ficam receosos", disse Oswaldo Pasqualotto, sojicultor no município de Rondonópolis, em Mato Grosso. "Este tem sido um dos anos com maiores incertezas dos últimos 10 ou 15 anos."

Embora as tradings tenham evitado compras a longo prazo enquanto esperam uma conclusão nas negociações entre China e EUA, os agricultores estão adiando o plantio por causa do clima, disse Pasqualotto por telefone. Ele pretende semear soja em 11 mil hectares, mas ainda não plantou nada devido ao clima muito quente e seco.

Com a guerra comercial, a demanda por soja brasileira segue forte este ano, mas o prêmio pago pela oleaginosa exportada dos portos domésticos equivale a menos da metade do nível há um ano. Isso porque a peste suína dizimou plantéis de suínos da China e restringiu a demanda do país asiático por soja usada como ração. As exportações de soja brasileira para a China caíram 16% neste ano até setembro, segundo dados do governo.

"Os prêmios não compensaram as incertezas em relação a muitas variáveis", disse Luiz Fernando Roque, analista da consultoria Safras & Mercado, em entrevista por telefone. "Embora a guerra comercial tenha sido positiva para os agricultores brasileiros, também trouxe muitas incertezas."

As oscilações cambiais são outra variável. Embora a alta do dólar sinalize preços mais altos para os agricultores e uma razão para plantar mais, também significa aumento dos custos. Analistas esperam que a modesta expansão da soja ocorra com a utilização do espaço de outras culturas e pastagens, em vez de plantar em novas áreas.

Uma abordagem conservadora dos agricultores também se reflete no lento ritmo de plantio nesta temporada, segundo Vitor Ikeda, analista do Rabobank. Os agricultores aguardam melhores condições de umidade do solo antes de intensificar o trabalho no campo em meio a um cenário mais desafiador em termos de preços e margens, disse.

Em 26 de setembro, o plantio de soja estava concluído em 0,9% no país, abaixo da média de cinco anos de 2,8%, segundo dados da consultoria AgRural. O índice também está muito abaixo dos 4,6% no mesmo período do ano passado, quando chuvas abundantes permitiram o plantio antecipado.

Embora o ritmo lento da semeadura de soja não seja uma preocupação em termos de produtividade das lavouras até agora, isso pode ser um problema para agricultores que planejam cultivar milho durante o inverno, logo após a colheita da oleaginosa. Atrasos significativos na safra de soja podem reduzir a janela ideal para o plantio da safrinha.

--Com a colaboração de Sebastian Boyd e Dominic Carey.

Para contatar o editor responsável por esta notícia: Daniela Milanese, dmilanese@bloomberg.net