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Rei da pizza na Rússia usa tecnologia para expansão global

Ilya Khrennikov e Jake Rudnitsky

14/10/2019 10h43

(Bloomberg) -- Depois de decifrar o código de lucro para entregar pizzas quentinhas no Ártico, onde blocos de queijo chegam em quebra-gelos nucleares, buscar a expansão em climas mais hospitaleiros, como no Reino Unido e na Nigéria, parece ser moleza.

Pelo menos essa é a opinião de Fyodor Ovchinnikov, o recém-coroado czar das franquias na Rússia e, em breve, segundo sua aposta, em muitos outros mercados. De um único forno no porão em sua cidade natal Syktyvkar, no extremo norte do país, o vendedor de livros fracassado e blogueiro em série transformou a Dodo Pizza em uma das redes de restaurantes que mais crescem na Europa, ultrapassando a Papa John's, Domino's e Pizza Hut no mercado russo em apenas oito anos.

Formado em arqueologia, Ovchinnikov, 38 anos, e seus franqueados abriram 457 pizzarias na Rússia e 69 unidades em outros 11 países. A Dodo tem 23 unidades próprias, incluindo seu novo carro-chefe na China. Agora, a rede planeja abrir outras 1.000 unidades na Europa, Ásia e África nos próximos cinco anos, uma meta que poucos no setor duvidam que o empresário possa alcançar.

O sucesso se deve a um molho secreto que não é comestível, mas etéreo - o Dodo IS, uma combinação proprietária de aplicativo e análise armazenada na nuvem. Supervisionado por um "diretor ágil" e operado por 120 técnicos, o sistema fornece, entre muitas outras coisas, monitoramento instantâneo de fluxos de caixa, estoques e tempo de serviço em todas as unidades da rede, visíveis com apenas alguns toques em um tablet. E as obrigatórias câmeras nas cozinhas transmitem ao vivo para qualquer pessoa com conexão à Internet como uma pizza Dodo é feita.

"Somos uma empresa de ciborgues", disse Ovchinnikov em entrevista na sede da Dodo, em Moscou. "Somos metade alimento, metade tecnologia. Essa é a nossa vantagem. Somos incrivelmente eficientes."

O nível de transparência da Dodo também é surpreendente para uma empresa de sucesso na Rússia, onde interferências de autoridades são uma das principais queixas de muitos empresários. A empresa divulga grande parte dos dados financeiros que coleta on-line, até mesmo a receita dos mais de 500 restaurantes franqueados. As vendas semanais em dólar, por exemplo, variaram recentemente de US$ 48,16 mil na segunda maior unidade da Dodo em Novy Urengoy, na Sibéria, a US$ 1,32 mil na número 2 da Dodo em Karaganda, no Cazaquistão. Duas unidades com maior receita estão localizadas no Círculo Polar Ártico, em Norilsk e Salekhard.

Ovchinnikov recentemente vendeu os direitos de franquia na Nigéria para a Quality Foods Africa, o mesmo grupo de investidores britânicos que trouxeram a Krispy Kreme ao país mais populoso do continente no ano passado. O diretor da QFA, Alex Trotter, disse que a primeira das 20 unidades planejadas da Dodo será aberta este mês em Lagos.

"Este setor está se tornando um negócio de tecnologia, e a Dodo está no topo da classe", disse Trotter por telefone, de Londres. "Tem a melhor plataforma que vimos em fast-food."

Ovchinnikov disse que o acordo com a QFA e o crescimento contínuo na Rússia, Europa e Ásia ajudarão a atingir a meta de US$ 500 milhões em receita da rede até 2021, e US$ 1 bilhão em 2024. O empresário espera alcançar o objetivo, em parte, contrariando as tendências predominantes em um setor que passa por uma grande mudança tecnológica.

Enquanto grandes redes de fast-food como McDonald's gastam bilhões de dólares para desenvolver serviços de entrega, a Dodo está remodelando seus restaurantes para atrair mais consumidores e conseguir o que Ovchinnikov chama de "equilíbrio de marca", ou seja, paridade de vendas entre clientes que comem nos restaurantes e entregas.