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Argentina sem pesquisas duas semanas antes de eleições

Patrick Gillespie

16/10/2019 09h55

(Bloomberg) -- Menos de duas semanas antes da maioria das eleições presidenciais, eleitores e investidores geralmente ficam de olho nas pesquisas de opinião. Mas, na Argentina, os levantamentos praticamente desapareceram do debate público.

As razões por trás da ausência de pesquisas são óbvias. Empresas de pesquisa em ambas as extremidades do espectro político subestimaram muito o desempenho do candidato da oposição, Alberto Fernández, nas eleições primárias de 11 de agosto, quando derrotou o presidente Mauricio Macri com uma vantagem de 16 pontos percentuais.

A ausência de dados e especulações sobre os resultados destacam um crescente sentimento de apatia, já que a maioria dos analistas e investidores acredita que Fernández já venceu, apesar de Macri estar em caravana pelo país para conquistar votos. Os recursos de investidores, que pagaram caro pelas pesquisas nas primárias, também secaram depois do impressionante resultado.

As pesquisas "estavam tão erradas, por que atribuiríamos alguma credibilidade a elas?", disse Walter Stoeppelwerth, diretor de investimentos da Portfolio Personal Inversiones, em Buenos Aires. Agora, "não há dinheiro para pesquisas e todos pensam que uma vitória no primeiro turno é uma conclusão inevitável."

Nas semanas anteriores às primárias de agosto, a maioria das pesquisas mostrava Macri, o favorito dos investidores, atrás de Fernández em 5 pontos percentuais ou menos, uma distância que o presidente argentino poderia superar na votação oficial e em um possível segundo turno em novembro. Magri foi esmagado nas primárias, e o caos financeiro se instalou.

Reação negativa

As pesquisas de opinião pública desapareceram dos noticiários noturnos e não são publicadas nas primeiras páginas dos jornais - duas tendências típicas dos ciclos eleitorais argentinos. As empresas de pesquisa reconhecem que os números das primárias estavam muito distantes da realidade, e a reação foi tão negativa que já não divulgam os levantamentos.

Mariel Fornoni, diretora da empresa de pesquisas argentina Management & Fit, reconhece que a empresa não conseguiu identificar a distância entre os candidatos nas primárias. Nas eleições anteriores, a empresa publicou pesquisas no Clarin, um dos principais jornais da Argentina. "Estamos trabalhando para clientes privados, mas decidimos não publicar novos números."

Fornoni diz que as empresas de pesquisa enfrentaram críticas de ambos os lados após as primárias. O partido de Macri se sentiu enganado, enquanto a legenda de Fernández se sentiu subestimada, disse.

Após as primárias, alguns investidores buscaram reembolso das outras pesquisas pelas quais já haviam pago, enquanto outros disseram que analisariam os dados, mas não necessariamente fariam negociações com base nos números, de acordo com várias pessoas que contrataram serviços de pesquisa e que pediram anonimato.

Enquanto isso, a falta de pesquisas de opinião confiáveis também abriu caminho para pesquisadores relativamente desconhecidos nas últimas semanas. Alguns preveem uma vitória de Fernández com vantagem superior a 20 pontos percentuais.

Para contatar o editor responsável por esta notícia: Daniela Milanese, dmilanese@bloomberg.net