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Descongelamento do permafrost já sai caro para a Rússia

Yuliya Fedorinova e Olga Tanas

18/10/2019 12h50

(Bloomberg) -- A Rússia pretende dar mais atenção ao impacto das mudanças climáticas sobre o permafrost, o tipo de solo que ocupa mais da metade do país. O descongelamento de solo que antes ficava permanentemente congelado coloca em risco edifícios, gasodutos e outras obras de infraestrutura. Com a temperatura no Ártico aumentando duas vezes mais rápido que no resto do mundo, o problema é enorme. A perda econômica anual é de 50 bilhões a 150 bilhões de rublos (US$ 2,3 bilhões), segundo Alexander Krutikov, vice-ministro de Desenvolvimento no Ártico e Extremo Oriente.

"Esse problema precisa ser tratado porque a quantidade de danos aumentará a cada ano", disse Krutikov em entrevista. "A escala é muito severa. Os canos explodem, as estacas entram em colapso."

Os comentários de Krutikov são mais um sinal de que a Rússia está levando a sério os efeitos da mudança climática. O país é o quarto maior emissor de poluentes do mundo. Durante a maior parte de seu mandato, o presidente Vladimir Putin questionou a noção amplamente aceita de que o aquecimento global é causado quase exclusivamente pela atividade humana.

Ainda assim, ele finalmente decidiu ratificar neste ano o Acordo de Paris de 2015 sobre mudança climática e declarou que a Rússia deve fazer o possível para mitigar o impacto do aquecimento global.

A elevação da temperatura é uma preocupação particularmente importante nos setores de mineração, petróleo e gás. Na Rússia, a área de permafrost é responsável por 15% das operações de petróleo e 80% das operações de gás. É também onde atuam mineradoras como a MMC Norilsk Nickel (Nornickel), a maior produtora de paládio e níquel refinado.

Há muito tempo a Rússia constrói estruturas sobre estacas para melhorar a estabilidade no permafrost. Mas o solo fica mais mole à medida que esquenta e há sinais de que os problemas estão se intensificando.

"Edifícios perderam estabilidade à medida que o permafrost aqueceu", informou a Nornickel. A situação levou Norilsk, cidade industrial no Ártico onde a Nornickel atua, a construir novas casas pela primeira vez em décadas, agora com menos andares e pesando menos que as residências tradicionais.

Várias novas crateras também foram encontradas na região de Yamal, onde o gás é abundante. Isso representa um risco para os gasodutos e algumas casas precisaram ser empurradas para baixo em Norilsk.

A situação pode se agravar muito. Até 2050, o aquecimento pode afetar um quinto das estruturas e obras de infraestrutura em toda a área de permafrost, a um custo aproximado de US$ 84 bilhões, segundo uma pesquisa publicada em fevereiro por cientistas incluindo Dmitry Streletskiy, professor da Universidade George Washington. A quantia equivale a cerca de 7,5% do Produto Interno Bruto da Rússia. Mais da metade dos imóveis residenciais, no valor de US$ 53 bilhões, também pode sofrer danos.

As empresas estão se planejando com antecedência. A produtora de gás Novatek está projetando novas obras de infraestrutura para lidar com o aquecimento nas próximas décadas, informou neste mês o bilionário proprietário Leonid Mikhelson. Além de empurrar as estacas mais para baixo, a empresa emprega tecnologia para ajudar a manter o solo congelado e estuda manter os dutos de gás natural liquefeito afastados do permafrost, usando plataformas gravitacionais normalmente utilizadas na produção offshore.

Em Norilsk, as autoridades colocaram cerca de um quarto das casas em estado de atenção por causa da estabilidade da fundação, de acordo com a publicação Taymirskiy Telegraph. A mineradora de diamantes Alrosa monitora cuidadosamente a temperatura do solo e possui um departamento especial para supervisionar o permafrost, segundo uma porta-voz.

"Estudar o permafrost é uma das tarefas e prioridades mais injustamente esquecidas do Estado", disse Krutikov. "Como ministério responsável pelo desenvolvimento do Ártico, nós não podemos ignorar esse tema porque afeta diretamente o desenvolvimento econômico."

--Com a colaboração de Natasha Doff, Áine Quinn e Dina Khrennikova.

Repórteres da matéria original: Yuliya Fedorinova em Moscou, yfedorinova@bloomberg.net;Olga Tanas Moscow, otanas@bloomberg.net